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Rio completa 456 anos em um mar de problemas

 

Por Claudia Mastrange

Nossa Cidade Maravilhosa está completando 456 anos. Mas, neste momento, não há muito o que comemorar neste 1 de março. Cantado em verso e prosa, cenário para tantos filmes internacionais e habituê no imaginário do mundo inteiro, o Rio tem seus inegáveis encantos e, quem é carioca, ou mora aqui, sente um amor imenso por essa terra abençoada. Mas sente também uma grande tristeza ao ver a infinidade de problemas que transformam em um caos de indignidade a vida de quem mora e trabalha no Rio.

E não é só por conta da pandemia do novo coronavírus, não. Com o rombo nas finanças, herança da gestão Marcelo Crivella, várias empresas terceirizadas, que prestam serviço para a a prefeitura, deixaram de receber. Os funcionários estão com salários atrasados e fazem protestos reivindicando seu direito, em um momento em que os postos de trabalho estão reduzidos. O 13º salário de 2020 de 100 mil funcionários públicos da prefeitura vai ser pago escalonado, a partir de… julho! O sistema BRT, apontado pelo prefeito Eduardo Paes como prioridade para moralização em sua campanha eleitoral, continua sucateado e lotado e nenhuma proposta concreta foi apresentada. A água fornecida pela Cedae votou a apresentar péssima qualidade e temos, sim, até vacina de vento.

No último dia 22 de fevereiro, profissionais terceirizados da rede municipal de educação realizam ato, em frente à a sede da Prefeitura, no Centro, para reivindicar salários atrasados, incluindo o 13º. Merendeiras, serventes, auxiliares de serviços gerais, controladores de acesso de diversas empresas terceirizadas afirmaram estar sem receber o pagamento. Em alguns casos, o atraso chega a quatro meses.

O protesto foi realizado com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe). Profissionais carregavam faixas com dizeres como: “Paes, pague nossos salários e garanta nossos empregos”.  A diretora do sindicato, Bárbara Sinedino, declarou em entrevista que muitos contratos foram suspensos, especialmente por conta da pandemia, o que, por isso há muita incerteza sobre a continuidade de trabalho.

Porteiros de colégios, como os da firma AgileCorp, estão desde dezembro sem receber. A merendeira Fátima Cardoso, em entrevista ao RJ TV, funcionária da empresas Soluções, declarou que também estava há dois meses sem salário e que todos os funcionários foram obrigados a assinar folha de ponto e banco de horas. “Somos mães de famílias e trabalhamos. Assinamos tudo, então queremos nossos salários”, disse.

Já os funcionários de creches do município (foto) estão sem salários, desde  dezembro de 2020, com promessa de pagamento apenas do salário de janeiro de 2021. Os atrasados ainda não têm data definida e o pagamento será  escalonado.  Os salários de fevereiro e março serão reduzidos para 75% porque as aulas serão remotas.

Como não houve repasse de verba desde outubro de 2020, há ainda o risco das creches fecharem. “As pessoas estão vendendo churrasquinho, fazendo faxina, tomando conta de criança… Todos se virando como podem para ao menos comprar o alimento. Muitos voltaram para a casa de seus pais, porque não tinha mais dinheiro para aluguel”, diz uma funcionária ao DR1, que prefere não se identificar.

BRT: solução que não chega

Implantado na cidade pelo mesmo Eduardo Paes, que venceu as eleições prometendo botar ‘ordem na casa’, o sistema BRT parece uma rede de infinitos problemas. Com a pandemia, a superlotação constante dos ônibus é um convite à circulação do coronavírus e ao surgimento das variantes que só realimentam a pandemia. Mas a população, que se vê sem opção, já que algumas linhas de ônibus tradicionais foram retiradas de circulação após a implantação do modal, vive em um beco sem saída. É simplesmente um acinte.

Para piorar, em 1º de fevereiro, a mobilização de motoristas do BRT, que reivindicavam pagamento de salários, paralisou todas as linhas. Nos pontos atendidos pelos coletivos articulados do BRT, depois de filas enormes, ônibus regulares saem superlotados, com muita gente sem máscara. Um caos que resulta da falta de prioridade por parte do poder público no que é essencial para a população.

Neste dia, o prefeito Eduardo Paes falou que “não há solução mágica”, pois não há como disponibilizar mais ônibus do que a frota existente. E tem batido na tecla de que as negociações com as empresas acontecerão a seu tempo, inclusive reiterou isso em suas redes sociais, em vídeo publicado no último dia 24.

Sistema BRT em colapso: lotação em plena pandemia (Foto DR1)

Em relação ao do 13º salário dos servidores, também interagiu nas redes sociais, em caixas de pergunta, e respondeu: “É nossa prioridade”. No último dia 25 de fevereiro, o secretário de Fazenda e Planejamento, Pedro Paulo, anunciou que a prefeitura  vai escalonar o pagamento do 13º salário de 2020 por 12 faixas salariais. A primeira faixa receberá apenas em julho deste ano. “Nós anteciparemos a metade do 13º de 2021. Os servidores públicos da prefeitura do Rio de Janeiro receberão e metade em julho”.

Ou seja, no momento em que a cidade completa idade nova, continuamos vendo os mesmos problemas: a população lutando para ter uma vida minimamente digna, diante de péssimos serviços de transporte, desemprego e achatamento salarial, pobreza e população de rua aumentando, saúde que vira moeda de troca para negociatas dos fraudadores, vacina de vento – como a que rolou em Copacabana, com uma técnica e enfermagem indiciada – , entre tantas questões.

Diante de tantas dificuldades, resta ao povo cobrar mais comprometimento e seriedade das autoridades. Protestar sim, filmar, apontar e denunciar tudo que torna nossa cidade menos maravilhosa e a rotina da população mais sofrida. Só assim teremos, um dia, muito a comemorar.

Fotos: Reproduções TV

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