A Roda dos Expostos, criada no século XVI, na antiga Itália, se propagou por toda Europa, logo chegando ao Brasil, no império. Era utilizada para o abandono de recém nascidos, rejeitados por suas
famílias.
Em geral, foram mantidas por instituições de caridade, como as Santas Casas da Misericórdia que os acolhia, cuidavam e, criavam aquelas criancinhas, antes deixadas, nas ruas ou nas portas de igrejas, a maioria decorrendo em óbitos.
Consistiam, estes mecanismos, numa espécie de roletas em forma de um tambor de madeira, instalados nos muros ou nas paredes dos estabelecimentos, onde os bebês eram depositados, através de uma portinhola, de tal forma, que nenhum dos partícipes, se vislumbravam entre si, nem o depositante, sequer o acolhedor.
No Brasil, a primeira cidade a receber estes engenhos, foi Salvador, e após, o Rio de Janeiro e Recife, da mesma forma, aos cuidados da Santa Casa.
Esta prestação de serviço, embora não tenha sido bem recebida pelo conjunto da sociedade, que o tinham como um processo a favorecer a degradação moral das famílias, porquanto, se de um lado encerrava uma forma de ajuda ao próximo, por outro, estimulava a anulação do sentimento maternal, favorecendo o abandono de incapazes.
Há registros, que estes dispositivos, tenham sido desativados, em torno de 1936.
A pobreza extrema, a orfandade, eram os elementos que definiam estas atitudes. Entretanto, constatava-se que a prática, era também frequente, entre famílias nobres, para ocultar descaminhos sexuais, práticas de adultério, assim como a “desonra” de certas “donzelas”.
Fato é, que o abandono de menores, persiste em nossa era contemporânea. Não raro, surgem notícias de bebês abandonados nas ruas e, até mesmo, em lixeiras. Seja por fatores econômicos, preconceitos sociais, desamor, desafeto, tolerância com a indigência humana. A ocorrência se constata, com frequência, sendo de tal sorte,
intolerável.
A inatividade destas a instituições, foram sendo observadas, a partir dos anos de 1950.
Por longo tempo, em ininterruptos , 429 anos, o Educandário Romão Duarte, remanescente desta atividade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, a que pertence, se tornou conhecido por ser uma das Instituições voltada a prestação deste serviço considerado filantrópico, não mais com a utilização do tal dispositivo da Roda mas, sim mantendo o acolhimento de criancinhas, a partir do nascimento, que são destituídas do poder familiar, e ou estejam em risco de vulnerabilidade social.
Ocorre que ao momento, encontra-se ameaçada de fechamento, por total hipossuficiência financeira. Quem vai assumir este serviço?
Onde serão acolhidos os bebês rejeitados, nascidos desvalidos, fadados ao abandono?
Estas reflexões, emergiram de mais uma controvérsia, e exaltadas polêmicas, tecidas pelos mais diversificados setores sociais, acerca do surgimento de mais um conturbado caso passível de aborto, envolvendo uma criança, estuprada e engravidada, aos 11 anos de idade.
A mesma sociedade que condena o aborto, convive linientemente, com o abandono de menores, como nos séculos passados, sendo a mesma que não se mobiliza para apontar soluções alternativas à questão ou salvar a Romão Duarte, ainda estabelecida, todos estes longos anos, no mesmo endereço sito, no tradicional bairro do Flamengo,
zona sul da cidade do Rio de Janeiro.