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Serra: A Guerra dos Bem-Te-Vis – a Balaiada

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Desde a Independência do Brasil em 1842, o Brasil atravessava um momento de instabilidade, que se agravou com a abdicação de Dom Pedro I, tornando a unificação do Brasil , como um projeto nacional, uma tarefa bastante difícil para o recém-formado império.

Diante da impossibilidade de seu filho Pedro de Alcântara assumir o governo, por ter apenas 5 anos de idade, por ocasião da abdicação, uma regência foi instituída, dando início a um dos períodos mais agitados do período imperial.

A Regência foi um período que afetou a política, a economia e ameaçou a integridade física do Império do Brasil. No início do período regencial havia três grupos denominados como partidos políticos: Partido Restaurador (sucessor do partido portugues) favorável à volta de D. Pedro I, Partido Moderado (sucessor do Partido Brasileiro) contrário à volta de D. Pedro I e favorável à Monarquia Constitucional e Partido Liberal Exaltado (sucessor do Partido Liberal Radical).

Até 1837 a regência foi dominada pelos liberais do Partido Moderado com Diogo Antônio Feijó que  após perder o apoio político renunciou  ao cargo e assumiu o posto o conservador Pedro Araújo Lima.

Na Província do Maranhão dois grupos disputavam o poder. Os cabanos (que não devem ser confundidos com os da Cabanagem do Grão-Pará) conservadores e ligados ao Partido Restaurador e os Bem-te-vis que representavam a população urbana que se opunha aos abusos dos proprietários de terras e aos portugueses. Eram perseguidos politicamente pelos conservadores que estavam no poder e que tinham o apoio do governo central, os cabanos. Com a renúncia de Feijó a disputa entre esses dois grupos se tornou bastante acirrada, uma vez que com Pedro Araújo Lima os conservadores passaram a assumir o poder com a nomeação de Vicente Camargo como presidente da província. As divergências entre cabanos e bem-te-vis eram marcadas por um forte ressentimento que restara da Setembrada de 1831, ocasião do motim contra a presença maciça dos portugueses na região. Com a promulgação de duas leis que permitiam o controle da Guarda Nacional pelos conservadores, os cabanos no Maranhão ampliaram os seus poderes.

O algodão era o principal produto exportado pela, então, Província do Maranhão  que estava sofrendo uma forte concorrência internacional, ocasionando problemas econômicos à região e resultando na chamada crise do algodão. À medida que os impostos mantinham-se altos e o cenário de miséria social se agrava, as camadas mais populares começaram a se articularem politicamente, aproximando-se dos setores médios urbanos ligados aos bem-te-vis, dando início aos conflitos conhecidos como a Balaiada.

Dois acontecimentos deram início aos conflitos que se prolongaram até 1841. Em 1838, Francisco dos Anjos fabricante de balaios organizou um bando para aterrorizar o interior da província do Maranhão.

Em dezembro de 1838, um grupo de vaqueiros empregados do Padre Inácio Mendes de Morais, ligados aos Bem-te-vis foram detidos na cadeia local pelo subprefeito e adversário político, ligado aos cabanos, José Egídio. Dois dias após a prisão, um dos vaqueiros, Raimundo Gomes Vieira, que trabalhava para o padre, liderou um assalto à cadeia da vila para libertar os prisioneiros, apoiados pelo destacamento local da Guarda Nacional.

Em 1939 Raimundo Gomes Vieira obteve o apoio de Francisco dos Anjos. O “Balaio” (termo que acabou caracterizando, também, os integrantes do motim) que se integrou ao motim que se alastrou por toda a província, desafiando a força dos cabanos que estavam no poder provincial.

Os Bem-te-vis aproximaram-se dos revoltosos e os ajudaram com munições, armas e alimentos. Além da adesão ao movimento de novos grupos e lideranças, tais como a de Cosme Bento das Chagas, chefe do quilombo local que contou, na época, com aproximadamente 3 mil africanos.

Os balaios passaram a contar com o apoio de mestiços, indígenas e diversos outros grupos sociais que pertenciam às camadas mais vulneráveis da população. Diferentes dos Bem-te-vis que eram compostos por membros das camadas médias, liderados por Lívio Lopes Castelo Branco e Silva.

A Balaiada não se tratava de um movimento unificado com interesses comuns, por esta razão é importante entender que tanto as disputas políticas no governo central e na região, como , também, a grave crise econômica provocada , sobretudo, pela crise do algodão que penalizava fortemente essas camadas mais populares.

Para conter os revoltosos, em março de 1839, Manuel Felizardo de Souza e Mello assumiu o cargo de presidente da Província do Maranhão e com uma tropa de, aproximadamente, 400 homens  enfrentou  os revoltosos. As forças do governo provincial foram derrotadas pelos balaios.

Neste instante a revolta já havia se espalhado pela província do Piauí e do Ceará. Em julho de 1939, a cidade de Caxias foi tomada pelos balaios despertando pânico no governo provincial, diante da possibilidade de invasão da Capital São Luís do Maranhão. Diante disso o grupo político dos Bem-te-vis se afastaram dos balaios e se aproximaram do novo presidente da província, chegando, inclusive, a colaborar com os cabanos, na tentativa de desmoralizar o movimento.

O Governos Central nomeou o Coronel Luiz Alves de Lima e Silva, em dezembro de 1839, com o poder de intervir, também, nas províncias do Piauí e Ceará. Ele tomou posse em fevereiro de 1840 e começou a mobilizar forças para combater os balaios. Com um destacamento de aproximadamente oito mil homens, o Coronel iniciou um ataque aos revoltosos. Aos poucos, o movimento foi sendo derrotado até que em maio de 1841 Luiz Alves de Lima e Silva declarou que não havia mais nenhum grupo de rebeldes armados. Colocando fim , portanto, a Balaiada.]Os conflitos deixaram um saldo de cerca de 12 mil mortos e o Coronel, como recompensa, foi condecorado como Barão de Caxias. Após a sua participação na Guerra do Paraguai, recebeu, alguns anos depois, uma nova condecoração que marcou a forma como ficou conhecido na história do País, “Duque de Caxias”.

Além da Balaiada, outras revoltas eclodiram somando ao que ficou como revoltas regenciais, tais como a Guerra dos Farrapos, A Revolta Malês, a Sabinada, entre outras. A Balaiada teve como principais  líderes Manuel Francisco dos Anjos (o Balaio), Raimundo Gomes Vieira (o cara preta), Livio Lopes Castelo Branco e Cosme Bento das Chagas, líder negro.