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Serra: Um movimento nativista de cunho econômico e social – A Revolta do Sal

Todas as revoltas nativista tiveram como causa principal o descontentamento, dos colonos brasileiros , contra as medidas tomadas pela Coroa . Ocorreram entre os séculos XVII e início do século XVIII e foram reprimidas com muita violência e rigor pela Coroa Portuguesa, como forma de manter e controlar seu domínio sobre a Colônia Brasileira.

O sal foi um importante produto de comércio, na época, em razão da expansão da pecuária e da produção, em massa, de carnes salgadas para exportação e para serem vendidas nas regiões das minas, que haviam crescido muito devido as descobertas e explorações de ouro e pedras preciosas.

Tudo começa com a instituição do monopólio do sal, criado pela Coroa portuguesa para que esta tivesse e controle da produção deste produto, através do Porto de Santos. A intenção do governo português era garantir que boa parte do sal teria como destino Portugal e a outra parte  a importantes mercados da Europa.

A Revolta do Sal foi um conflito de caráter nativista, de cunho econômico e social que envolvia, exatamente, o sal. Ocorreu nas províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de janeiro, no ano de 1710, sendo a cidade portuária de Santos o foco deste movimento de contestação econômica e , também, política. O monopólio do sal pela Coroa Portuguesa e a lucratividade abusiva, por parte dos comerciantes que vendiam o produto a um preço exorbitante, praticando ações especulativas para aumentar , cada vez mais , o preço da mercadoria, fazendo a distribuição em menores quantidades do que geralmente eram consumidas e o armazenamento, em esconderijos, dessas mercadorias, simulando, assim, uma falsa escassez para que houvesse uma alta de preços.

Essas práticas acabavam prejudicando, também, os compradores internos. A população estava ficando, cada vez mais, revoltada com esta situação. Circulava pelas ruas das cidades, as críticas que diziam que só os ricos podiam temperar os alimentos com sal e os pobres tinham que comer sem. A Coroa Portuguesa não se importava com a baixa distribuição do produto dentro de sua própria colônia, nem tomava providência para acabar com este abuso, se posicionando, sempre, do lado dos comerciantes em sua maioria portugueses.

A inércia das autoridades só piorava a situação, deixando insatisfeitos os consumidores, até que, no ano de 1710 (outubro) o rico proprietário de terras e  de escravos , Bartolomeu Fernandes de Faria, comovido com a situação da população . Saiu de sua fazenda Angola, próximo a Jacareí, desceu a Serra do Mar liderando 200 índios, capangas e escravos fortemente armados . Chegando na Vila de Santos, mandou arrombar e saquear os locais onde estavam armazenado o sal  e distribuí-lo para os consumidores que necessitavam do produto. Ficando o episódio conhecido como A Revolta do Sal. Porém, Bartolomeu Fernandes  de  Faria fez questão de pagar pelo sal, mas deixando um valor, em dinheiro, que achava justo. Fez, também, questão de pagar os impostos da Coroa Portuguesa. Tomando a mercadoria  considerada necessária o bando subiu a serra, destruindo a ponte que ligava a Ilha de São Vicente ao continente, a fim de impedir que as autoridades de Santos seguissem em sua  perseguição.

Rápido e fulminante o assalto não encontrou nenhuma resistência da guarda. Diante do contingente armado e agressivo, os defensores da praça, prudentes, só esboçaram uma fraca reação quando os invasores haviam se retirado.

A notícia chegou a Portugal e a Coroa, desmoralizada e lesada,  considerou o ato desafiador e rebelde contra o governo português. Os comerciantes de sal, prejudicados pela ação, reclamaram e exigiram uma atitude de Portugal à revolta.

A atitude de Bartolomeu Fernandes de Faria, além  de ter representado um claro desafio às autoridades portuguesas, prejudicara os interesses dos comerciantes de Lisboa, instalados na Capitania. Foram esses fatos que levaram  D. João V publicar e enviar uma Carta Régia, em 1711, ordenando a detenção de Bartolomeu. Entretanto, este havia tido tempo de evadir-se e de reforçar sua posição sobre suas terras, fortificando sua fazenda, defendida de maneira eficaz pelos seus homens.

Foi, somente, em 1718, oito anos após a invasão ao Porto de Santos que as autoridades portuguesas conseguiram capturá-lo. Aos 80 anos de idade, Bartolomeu Fernandes de Faria foi levado “a ferros” para Santos, de onde seguiu para Salvador para ser julgado.  Contraiu varíola e acabou morrendo em 1719 com 80 anos de idade, antes de qualquer punição pelo gesto de revolta contra o patrimônio de Sua Majestade de Portugal.

A Revolta do Sal deve ser compreendida no contexto do controle que a metrópole exercia sobre o Brasil Colônia. Os habitantes da terra, que em sua grande maioria eram  de classe média baixa e pobres foram os que mais sofreram com os impostos e preços altos, controlados por pequenos grupos, privilegiados , de comerciantes portugueses protegidos pela Coroa Portuguesa. Havia um forte sentimento de frustração e abandono entre os brasileiros mais pobres em relação ao governo.

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