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Silvania

Fosse o poeta embrenhar-se pelas misteriosas terras mineiras, para encontrar-se diante da derradeira chama, a única chama com a qual queria ainda perseverar no ardor sisudo e intrincado da própria vida, prestes a evadir-se na respiração espiralada dos ventos.

Insistisse ainda o poeta na ânsia desmesurada de cantar o seu canto notívago,  mas caminhasse absorto em pensamentos tenebrosos onde a luz se tornava treva e a treva mesma convertia-se no sempiterno medo que apavora e afasta toda a gente.

Morresse o poeta no naufrágio cotidiano de seus fracassos e os temores se fizessem gritos desesperados de tristes árvores ribeirinhas e tudo morresse junto ao seu corpo consumido por afeções de rosas, sândalos e  místicos espinhos crísticos.

Revivesse o poeta nas montanhas verdejantes da Palma mineira, uma torrente iluminada abrindo-se aos seus olhos ensimesmados e o levassem para paragens de outras verduras e odores, onde reina estranha e misericordiosa paz.

E das águas de ouro soerguesse a linda mulher de olhos agateados,  braços alvos como torrões de açúcar colhidos à moda nordestina e cabelos volumosos, amendoados, liquefeitos ao sabor da chuva e da noite rutilante.

E Silvania fosse o nome tatuado nos seios puros e seus apelos de amante fossem tão irresistíveis, que o poeta deixaria prostrar-se diante da beleza vulcânica, para perder-se nos encantos das Minas Gerais onde a chama da vida insiste em não morrer.

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