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Sueli Carneiro: referência do feminismo negro e da luta antirracista no Brasil

Divulgação

Sueli Carneiro nasceu em São Paulo, em 1950, e construiu uma trajetória que a tornou uma das mais importantes vozes do feminismo negro e da militância antirracista no Brasil. Filha de um ferroviário e de uma costureira, cresceu em um ambiente humilde, cercada por dificuldades sociais que a sensibilizaram desde cedo para as desigualdades raciais e de gênero. Essas experiências pessoais se tornariam a base de sua vida acadêmica e militante.

Formada em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), Sueli se destacou como uma das poucas mulheres negras em um espaço historicamente dominado por homens brancos. Seu olhar crítico se aprofundou durante o doutorado, defendido na USP, com a tese “A construção do outro como não-ser como fundamento do ser”, que analisou os mecanismos de exclusão racial e social no Brasil. A pesquisa foi posteriormente publicada como livro e se tornou uma obra de referência no estudo da racialidade e da opressão estrutural.

Nos anos 1980, Sueli Carneiro ampliou sua atuação política ao fundar o Geledés – Instituto da Mulher Negra, a primeira organização independente voltada à defesa dos direitos das mulheres negras em São Paulo. O instituto atua em áreas como educação, saúde, cultura e políticas públicas, promovendo ações de combate ao racismo e à violência de gênero. A criação do Geledés consolidou Sueli como uma liderança na articulação entre movimentos sociais e espaços institucionais de poder, dando voz a mulheres historicamente marginalizadas.

Além de militante, Sueli é pensadora e teórica do feminismo negro. Ela desenvolveu conceitos fundamentais, como o epistemicídio, que denuncia o apagamento dos saberes negros nas estruturas de poder e no conhecimento acadêmico, e os dispositivos de racialidade, que explicam como o racismo se mantém presente em instituições, práticas e relações sociais contemporâneas. Sua obra busca evidenciar a necessidade de políticas públicas e ações afirmativas que corrijam desigualdades históricas.

Ao longo de sua carreira, Sueli recebeu diversos reconhecimentos, incluindo o Prêmio Bertha Lutz, concedido pelo Senado Federal, o Prêmio de Direitos Humanos da França e, em 2022, tornou-se a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). Seu trabalho acadêmico, aliado à militância social, transformou o debate sobre gênero, raça e poder no Brasil, tornando-a referência nacional e internacional.

Sueli Carneiro também participou de conferências, conselhos nacionais e fóruns internacionais, defendendo a inclusão das mulheres negras em políticas públicas, a valorização de suas experiências e a ampliação de oportunidades em educação e mercado de trabalho. Ela é reconhecida por transformar sua experiência pessoal em ação coletiva, articulando movimentos sociais, intelectuais e institucionais.

Hoje, Sueli Carneiro é símbolo de resistência e inspiração para novas gerações de militantes, acadêmicas e líderes comunitárias. Sua trajetória mostra que a luta pela igualdade racial e de gênero é contínua, e que o feminismo negro é fundamental para transformar o Brasil em uma sociedade mais justa e inclusiva.

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