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‘Tem uma frase que diz ‘precisamos construir escolas para não construir presídios’. Escola é transformação, escola é capacidade de entender o mundo, escola é heteronomia’

Martha Mesquita da Rocha é uma ex-delegada de polícia e política brasileira. Atualmente, é deputada estadual do Estado do Rio de Janeiro.

Formada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sua formação acadêmica inclui especialização em Direitos Humanos na Universidade Candido Mendes e no Curso Superior de Polícia ministrado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), tem pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal pela Universidade Estácio de Sá, como também em Administração Pública pela UERJ e pela Escola de Políticas Públicas e de Governo da UFRJ.

Em 1983, tornou-se escrivã na Polícia Civil, em um local onde não havia banheiro feminino, que acabou sendo conquistado após suas manifestações. Sete anos depois, ocupou o cargo de delegada, em que participou da criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Em 1993, se tornou a primeira mulher a chefiar o Departamento Geral de Polícia Especializada e em 2011 entrou para a história como a primeira mulher a assumir a Chefia da Polícia Civil.

Sua gestão ficou marcada pelo foco nas ações de prevenção aos crimes contra mulheres, a criação da Cidade da Polícia, as melhorias no atendimento nas delegacias e a ampliação no serviço de registro de ocorrência online, além de ações de combate ao contrabando, à pirataria e à contravenção. 

Em 2018, se reelegeu para o cargo de deputado estadual, agora no PDT. Em seu segundo mandato, tornou-se presidente da CPI do Feminicídio e da Comissão de fiscalização dos gastos do Estado do Rio de Janeiro no combate à COVID-19. 

Em 2020, foi candidata a prefeita da cidade do Rio de Janeiro. Terminou a disputa em 3° lugar com 11,30% dos votos válidos. 

O Jornal DR1 entrevistou a deputada estadual do Estado do Rio de Janeiro Martha Rocha que contou sobre suas ações. 

Jornal DR1: Como surgiu o interesse pela polícia civil e posteriormente pela política?

Dep. Martha Rocha: Eu gosto de dizer que eu sou filha de imigrantes portugueses, donos de padaria, fruto da escola pública até a universidade. Eu fui aluna da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e eu estava no último período da faculdade quando vi um anúncio sobre concurso público no cargo de Escrivão da polícia. O meu primeiro emprego foi como professora primária, e eu já tava no final da faculdade quando realizei o concurso. Não venho de uma família de policiais, mas realizei porque a questão financeira era muito melhor, na época eu iria receber três vezes mais. 

E em 1983, acabei chegando no primeiro grande grupo de mulheres na polícia civil, onde o Brasil estava passando por um momento de redemocratização. Em 1986, aconteceu a criação das delegacias de mulheres, em 88 a prorrogação da Constituição cidadã e em 1990 eu faço um outro Concurso Público para o cargo de Delegada Civil. E como Delegada, eu fiquei de 1990 até 2014, e quando efetivamente me aposentei da Polícia Civil e deixei a minha Instituição sendo a primeira e única mulher a comandar aquela instituição. 

Jornal DR1: A senhora teve a votação mais expressiva nesse ano, assim como o Brasil reelegeu mais de 15 deputadas mulheres. Qual é a importância desse momento das mulheres na política?

Dep. Martha Rocha: De 2020 para este ano, nós observamos um crescimento do aumento da participação das mulheres para o parlamento. Mas, ainda não conseguimos chegar à mesma performance no poder executivo. Ainda observamos a cidade do Rio de Janeiro, capital cultural do país, nunca teve uma mulher prefeita. Assim como, o município de Niterói também nunca teve uma mulher prefeita. Ou seja, grandes municípios que nunca vivenciaram a participação da mulher no exercício do poder executivo. Agora, no poder legislativo, é fato que nós estamos percebendo o maior número de participação feminina. Esse ano, nós ultrapassamos 20% de 70 cadeiras no total. 

Na minha opinião, o que tem contribuído para esse crescimento é que as mulheres tem uma forma diferente de fazer política. As mulheres discutem os temas de forma suprapartidárias. 

Jornal DR1: O que podemos esperar em relação à luta contra a violência doméstica? 

Dep. Martha Rocha: Então, venho de uma instituição masculina, e cresci profissionalmente desse local que sempre foi chefiado por homens. Então, não dá para tratar no exercício da política a questão da cidadania masculina, e quando olhamos para dentro do meu mandato observamos as grandes conquistas como: presidi a CPI do feminicídio, presidi a CPI da violência contra a mulher, a CPI da intolerância religiosa. E quando notamos os dados estatísticos, 58% das vítimas de intolerância religiosa são mulheres, portando há um traço de sexismo e misógino nesse tipo de crime. As mulheres que estão à frente das religiões de matrizes africanas, porque essas religiões apresentam na sua liderança uma cultura matriarcal, elas também são grandes vítimas desse crime. Por fim, acho que nos próximos quatro anos estaremos discutindo as pautas das mulheres. 

Jornal DR1:  Qual é a importância das escolas em ensino integral para as mulheres que são mães solos?

Dep. Martha Rocha: Quando pensamos nas mulheres, temos que pensar também no outro lado da moeda. Ou seja, mulheres escolarizadas garantem a permanência dos seus filhos nas escolas.  Eu sempre conto a minha história, onde a minha mãe veio de Portugal com 16 anos e ela chegou aqui com o grande desejo de realizar o curso de magistério. Mas, o meu avô foi contaminado por uma opinião de um amigo, que dizia que mulheres não deveriam frequentar escolas. A minha geração, foi a primeira a frequentar escolas e isso me enche de orgulho. Tem uma frase que diz ‘precisamos construir escolas para não construir presídios’. Escola é transformação, escola é capacidade de entender o mundo, escola é heteronomia. 

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