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Tereza de Benguela, a rainha da luta pela liberdade e preservação cultural

Com uma liderança corajosa e visionária, ela desafiou as estruturas de poder da época

Se ainda nos dias atuais, a mulher negra enfrenta vários desafios como taxa de desemprego superior à das mulheres brancas., feminicídio, duas em cada três vítimas são mulheres negras, acesso à educação, entre outros, imagina no período da escravidão? Foi justamente neste momento que Tereza de Berenguela, surge como uma heroína, devido a sua luta pela liberdade de seu povo e também pela preservação de sua cultura, tradições e estilo de vida.

Seu local de nascimento é desconhecido. Historiadores não sabem se veio de algum país do continente africano ou nasceu aqui mesmo no Brasil. Tereza viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho até ser assassinado por soldados do Estado. O Quilombo do Piolho também era conhecido como Quilombo do Quariterê (a atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia). Esse quilombo foi o maior do Mato Grosso. Com a morte  do marido, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.

O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”.

Tereza se aproveitou do local de difícil acesso do quilombo para utilizar estratégias e criar grupos e ações coordenadas na comunidade que vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca e banana. Ela criou e comandou uma estrutura política, econômica e administrativa. Sob seu comando, foi criado um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, visto que dominavam o uso da forja.

Tereza governou em um regime parlamentarista, criando um conselho, onde  se reunia  todas as semanas com pessoas que ela escolheu e denominou para determinados cargos. Chamada de rainha por esse motivo, ela presidia o Senado. 

Ela também estabeleceu regras e normas dentro do quilombo, garantindo a sustentabilidade da comunidade e a segurança de seus habitantes. Sua liderança corajosa e visionária desafiou as estruturas de poder da época, colocando-a à frente de seu tempo.

Não se tem registros de como Tereza morreu. Uma versão é que ela se suicidou depois de ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, e outra afirma que Tereza foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.

Em homenagem a Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data comemorativa foi instituída pela Lei n° 12.987/2014.