Novo anuário aponta que maioria dos municípios brasileiros não alcançou coberturas vacinais ideais em 2023
Apesar de uma leve recuperação desde 2022, a cobertura vacinal no Brasil ainda está longe do ideal. Segundo o Anuário VacinaBR 2025, divulgado nesta semana pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) em parceria com a SBIm e o Unicef, cerca de 80% da população brasileira vive em cidades que não atingiram as metas de vacinação em 2023.
Entre as 13 vacinas analisadas, nove não alcançaram os 95% de cobertura esperados. Um dos casos mais alarmantes é o da vacina contra varicela (catapora): apenas 3% dos brasileiros residem em municípios que bateram a meta, o pior índice desde o início da aplicação em 2013.
Os dados foram coletados de fontes oficiais como o DataSUS, InfoMS, IBGE e o Sistema de Nascidos Vivos, e mostram que, embora o cenário tenha começado a melhorar após a pandemia, os números seguem abaixo do padrão registrado até 2015 — quando o Brasil era referência mundial em vacinação.
Vacinas críticas e abandono de doses
O levantamento aponta que vacinas como as de poliomielite, meningocócica C, Haemophilus influenzae tipo B (Hib) e a própria varicela não atingiram as metas em nenhum dos 26 estados nem no Distrito Federal. A situação da vacina meningocócica C é considerada grave: nenhuma unidade da federação cumpriu a meta entre 2021 e 2023.
Outro ponto de atenção é o abandono de esquemas vacinais. A tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, exige duas doses. Em 2023, nenhum estado conseguiu alcançar a meta da segunda dose. Em 14 estados, menos da metade das crianças completou a vacinação. O Mato Grosso do Sul teve a maior taxa de abandono: 63,1%.
“O problema não é só começar, é voltar para a segunda dose. A percepção de risco caiu e as pessoas esquecem ou não priorizam”, explica Isabella Ballalai, diretora da SBIm.
Desigualdade regional e riscos futuros
A Região Norte segue como a mais vulnerável, com os piores índices para doenças como sarampo e pólio. Mas até estados mais ricos, como o Rio de Janeiro, tiveram desempenho abaixo do esperado. Em 2023, o estado não atingiu a meta para nenhuma vacina do calendário infantil.
Além disso, o relatório alerta para os chamados “bolsões de baixa cobertura”, onde cidades vizinhas têm discrepâncias enormes. No Amazonas, por exemplo, a cobertura varia de 95% a menos de 50% entre municípios próximos, comprometendo a eficácia da proteção coletiva.
Sinais de recuperação
Apesar do cenário preocupante, há sinais positivos. Dados preliminares de 2024 (ainda não incluídos no anuário) mostram que vacinas como a BCG e a tríplice viral (1ª dose) ultrapassaram os 95% de cobertura. A vacina contra hepatite B também chegou perto, com 94,04%.
Para os especialistas, o Brasil precisa manter os esforços e investir em comunicação, acesso e estratégias locais, como vacinação em escolas e campanhas de busca ativa.
“A desinformação existe, mas o maior desafio no Brasil hoje é a conveniência. Quando a pessoa percebe risco real, ela vacina. Precisamos mostrar isso melhor”, conclui Ballalai.