A saúde é o primeiro degrau da dignidade humana. Sem ela, não há educação plena, trabalho produtivo, nem cidadania efetiva. No Brasil, onde as desigualdades sociais se entrelaçam com a geografia, a cor da pele e a renda, falar de saúde pública é falar de justiça social. E, em tempos eleitorais, é também falar de escolhas que impactam diretamente a vida de milhões.
A pandemia da COVID-19 escancarou as fragilidades e, ao mesmo tempo, a força do nosso sistema de saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS), muitas vezes invisibilizado, revelou-se essencial. Foi ele que garantiu o acesso universal à vacinação, que sustentou os hospitais públicos em meio ao colapso e que, mesmo sob pressão, não fechou as portas para ninguém. No entanto, também ficou evidente o quanto ainda precisamos avançar: filas intermináveis, escassez de profissionais, falta de insumos e desigualdade no acesso a exames e tratamentos especializados.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, é clara: “A saúde é direito de todos e dever do Estado.” Esse princípio orienta a existência do SUS, um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, baseado na universalidade, integralidade e equidade. Mas o que está no papel precisa se materializar na prática. E isso depende, em grande parte, de decisões políticas — e, portanto, do voto consciente.
A legislação eleitoral, especialmente a Lei nº 9.504/1997, exige que os candidatos apresentem propostas claras em seus programas de governo. Isso inclui planos para a saúde pública. O eleitor tem o direito — e o dever — de conhecer, questionar e comparar essas propostas. Como os candidatos pretendem reduzir as filas para consultas e cirurgias? Qual o plano para ampliar o acesso a especialistas, especialmente nas regiões mais remotas? Como garantir financiamento estável e suficiente para o SUS, diante de um cenário fiscal desafiador?
Ainda, é preciso discutir a valorização dos profissionais da saúde, a modernização da gestão hospitalar, o fortalecimento da atenção básica e a integração entre os níveis de cuidado. A saúde mental, negligenciada por décadas, também precisa ocupar lugar de destaque nas políticas públicas, sobretudo após os impactos emocionais da pandemia.
A qualidade de vida não é um luxo: é um direito. E ela começa com a garantia de que qualquer pessoa, independentemente de sua condição social, possa ser atendida com dignidade quando mais precisa. O voto, nesse contexto, torna-se um instrumento de transformação. É por meio dele que escolhemos quem vai decidir sobre o orçamento da saúde, sobre a construção de hospitais, sobre a compra de medicamentos, sobre a vida.
Portanto, ao se aproximar das eleições, olhe além dos discursos fáceis. Pergunte, pesquise, compare. Exija compromisso com a saúde pública. Porque o tempo de espera por um atendimento pode ser a diferença entre a vida e a morte. E o seu voto pode ser a diferença entre o descaso e a esperança.
Saúde não é favor. É direito. E o direito à vida não pode esperar.



