A democracia é mais do que um regime político: é uma construção histórica, filosófica e jurídica que se reinventa a cada geração. No Brasil, o debate sobre reforma política e representatividade torna-se urgente diante da proximidade das eleições, em meio à polarização, desigualdades persistentes e crescente desconfiança nas instituições. O direito de escolher e ser escolhido, previsto no artigo 14 da atual Carta Política, é expressão da cidadania ativa, da dignidade política e da soberania popular.
Do ponto de vista jurídico, a reforma política exige revisão de normas constitucionais e infraconstitucionais que regulam o processo eleitoral, partidos, financiamento de campanhas, cláusula de barreira, sistema proporcional e fidelidade partidária. O objetivo é garantir mais eficiência, transparência e legitimidade ao sistema representativo, sem comprometer os princípios constitucionais da igualdade, legalidade e moralidade.
No campo do Direito Eleitoral, representatividade vai além da presença numérica de grupos sociais no Parlamento. Ela exige que os eleitos reflitam os valores e necessidades da sociedade. A baixa presença de mulheres, negros, indígenas e outros grupos revela um déficit que precisa ser enfrentado. A reforma deve ser inclusiva, plural e comprometida com a justiça social.
Filosoficamente, Kant nos lembra de que o ser humano é fim em si mesmo — o eleitor não pode ser tratado como meio para interesses partidários. Habermas propõe uma democracia deliberativa, baseada no diálogo racional e na participação cidadã. A reforma política deve ampliar a escuta pública, o debate qualificado e a transparência institucional.
Platão via a política como arte de governar com sabedoria; Aristóteles, como realização da vida coletiva. Ambos defendem que a boa política exige virtude, ética e compromisso com o bem comum. Representatividade, nesse sentido, é também moral e antropológica: requer líderes empáticos, éticos e conscientes da diversidade humana.
No plano econômico, é essencial enfrentar o poder do capital sobre as eleições. Financiamento público, prestação de contas rigorosa e combate às fake news são medidas fundamentais para equilibrar o jogo democrático. A concentração de recursos em poucos candidatos distorce a vontade popular e perpetua desigualdades.
Ocorre que, politicamente, é necessário repensar o sistema proporcional, que fragmenta a representação e dificulta a governabilidade. Modelos mistos, como o distrital misto, podem ser alternativas viáveis, desde que respeitem a proporcionalidade e a diversidade regional.
Logo, a reforma política não é um fim, mas um meio para fortalecer a democracia, garantir direitos e promover inclusão. O direito de escolher e ser escolhido são a base da cidadania. Reformar é preciso — com responsabilidade, escuta e compromisso com o Brasil que queremos: um país onde cada voto tenha peso, cada voz tenha espaço e cada cidadão tenha vez.



