Ator, cineasta e ativista, ele foi precursor na luta por representatividade negra no cinema brasileiro e fundador do Centro Afro Carioca de Cinema
Zózimo Bulbul, nascido Jorge da Silva em 21 de setembro de 1937, no Rio de Janeiro, se tornou um ícone da luta por representatividade negra no audiovisual brasileiro . Com carreira iniciada no Teatro e no Cinema Novo dos anos 1960, Bulbul acumulou mais de 30 participações em filmes como Cinco Vezes Favela (1962), Ganga Zumba, Terra em Transe (Glauber Rocha) e Compasso de Espera (Antunes Filho) . Em 1969, foi o primeiro protagonista negro de uma telenovela no Brasil, em Vidas em Conflito, ao lado de Leila Diniz — cena emblemática que chocou a sociedade conservadora da época .
Insatisfeito com a limitação dos papéis destinados a atores negros, Bulbul passou a dirigir. Em 1973, lançou o curta experimental Alma no Olho, construído a partir de negativos residuais de Antunes Filho. Num preto e branco marcante, o filme representa, em pantomima e linguagem corporal, a diáspora africana — de seu sequestro à vida nas Américas — ao som de John Coltrane, sendo apontado como obra-prima e marco do cinema negro nacional .
Seguiram-se produções com forte conteúdo social e histórico: Abolição (1988), que discute o centenário da Lei Áurea, e media-metragens como Aniceto do Império (1981), Pequena África (2002), Samba no Trem (2005) e o documentário Renascimento Africano (2010), realizado a convite do governo do Senegal .
Em 2007, fundou o Centro Afro Carioca de Cinema, um polo de fomento à produção de cineastas negros, conhecido também por promover o Encontro de Cinema Negro Brasil, África & Américas, reunindo artistas afrodescendentes de todo o mundo . Para Bulbul, o cinema era “uma arma” contra o colonialismo, uma forma de contar a história a partir da própria perspectiva negra .
Sua trajetória como ator, cineasta e ativista só se encerrou em 24 de janeiro de 2013, aos 75 anos, vítima de complicações cardíacas após longa batalha contra o câncer . Sua morte foi lamentada por personalidades como Chacrinha, que o chamava de “o negro mais bonito do Brasil”, e pelo cineasta Lázaro Ramos, que o definiu como parte inspiradora para sua própria carreira .
O legado de Zózimo Bulbul permanece vivo. Sua filmografia, ainda disponível em espaços independentes, é referência essencial para pesquisadores e cineastas. O Centro Afro Carioca e os encontros internacionais que idealizou seguem ativos, fortalecendo vozes negras. Seu trabalho ressoa hoje em produções contemporâneas que buscam justiça racial e visibilidade, mantendo acesa a chama de sua luta.
Resumo da importância
Primeiro protagonista negro em novela brasileira (1969)
Curta experimental Alma no Olho (1973): marco do cinema negro
Documentário Abolição (1988): análise crítica da abolição da escravatura
Fundador do Centro Afro Carioca de Cinema e curador dos encontros internacionais
Zózimo Bulbul não foi apenas artista: foi visionário, ativista e formador, cujas ações romperam o silêncio do invisível e transformaram o cinema em instrumento de resistência e afirmação. Seu legado é inspiração permanente para garantir que outras vozes negras encontrem seu lugar na tela e na sociedade.