Agosto Lilás não é apenas um mês de conscientização — é um alerta. Um lembrete de que, em pleno século XXI, milhares de mulheres brasileiras seguem sendo agredidas, silenciadas e invisibilizadas. A cada quatro minutos, uma mulher é vítima de violência física no Brasil. E isso é apenas a ponta do iceberg.
Neste contexto, o Agosto Lilás se torna um marco de mobilização social, jurídica e política. Mas em 2026, essa mobilização precisa ir além das campanhas: ela precisa chegar às urnas. Porque a violência contra a mulher não se combate apenas com indignação — se combate com políticas públicas, orçamento, fiscalização e compromisso político.
A violência contra a mulher se manifesta de forma multifacetada: (1) Física: lesões, agressões e feminicídio; (2) Psicológica: humilhações, ameaças e manipulação; (3) Sexual: coerção, estupro e controle reprodutivo; (4) Patrimonial: retenção de bens e destruição de documentos; e, (5) Moral e social: fifamação, calúnia e isolamento.
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que completou 19 anos no dia 7 de agosto, é um marco jurídico internacionalmente reconhecido. Ela criou medidas protetivas, varas especializadas e protocolos de atendimento. Mas ainda há muito a ser feito: muitas mulheres desconhecem seus direitos, não sabem como denunciar ou não confiam nas instituições.
A violência doméstica não afeta apenas o corpo — ela destrói projetos de vida. Mulheres vítimas enfrentam: (a) depressão, ansiedade e traumas psicológicos; (b) dificuldades profissionais e econômicas; e (c) filhos com problemas de desenvolvimento e saúde mental.
Esses impactos reverberam em toda a sociedade, perpetuando ciclos de pobreza, exclusão e desigualdade. Combater a violência de gênero é, portanto, uma questão de saúde pública, justiça social e desenvolvimento nacional.
Com a aproximação das eleições de 2026, é urgente perguntar: quais candidatos estão comprometidos com a justiça de gênero? Quais partidos apresentam propostas concretas para enfrentar o feminicídio, ampliar a rede de proteção e garantir dignidade às mulheres?
O voto precisa ser um instrumento de transformação. É preciso exigir: (I) Planos de governo com metas claras para o enfrentamento à violência; (II) Investimento em educação de gênero nas escolas; (III) Fortalecimento das delegacias especializadas e da justiça restaurativa; e, (IV) Ampliação da rede de acolhimento e atendimento humanizado.
A ausência dessa pauta nas campanhas eleitorais é um sintoma da negligência histórica. E cabe à sociedade civil romper esse silêncio.
O combate à violência contra a mulher não é tarefa exclusiva do Estado. É responsabilidade de todos: (1) Famílias devem acolher e apoiar; (2) Escolas devem educar para o respeito; (3) Empresas devem garantir ambientes seguros; (4) Mídia deve informar com responsabilidade; e, (5) Sociedade civil deve fiscalizar e mobilizar.
A campanha “Não deixe chegar ao fim da linha. Ligue 180” é um exemplo de como a comunicação pode salvar vidas. Mas ela precisa ser acompanhada de ações reais, permanentes e estruturadas.
Agosto Lilás é mais do que um mês de conscientização — é um grito coletivo por dignidade, justiça e memória. Mas as eleições de 2026 exigem mais do que escuta: exigem ação. Não basta lamentar os números que sangram nas estatísticas — é preciso enfrentá-los com coragem política, empatia social e compromisso humano.
Que cada cidadão entenda que o voto não é apenas um direito — é um ato de responsabilidade ética. Que cada instituição abandone a neutralidade confortável e assuma seu papel na construção de um país que não tolera violência. Que cada candidato seja desafiado a transformar promessas em políticas, discursos em orçamento, e intenções em proteção real.
Porque proteger mulheres é proteger a essência da vida, da democracia e do futuro. E esse futuro não pode esperar. Ele começa agora — com atitude, com políticas públicas eficazes, com escolhas conscientes e com a urgência de quem sabe que o silêncio já custou demais.





