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o precursor esquecido da bossa nova

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Nascido Alfredo José da Silva em 19 de maio de 1929, no bairro da Vila Isabel, no Rio de Janeiro, Johnny Alf cresceu em um ambiente simples, filho de uma empregada doméstica. Desde cedo demonstrou talento para o piano e, ainda adolescente, aprendeu a tocar de forma autodidata. No Colégio Pedro II, teve contato com música erudita e começou a se encantar pelo jazz norte-americano — influência que marcaria toda a sua carreira.

Jazz e inovação

Na década de 1940, Alf começou a se apresentar em clubes e boates cariocas, destacando-se por misturar harmonias do jazz às estruturas do samba-canção. Essa combinação refinada deu origem a um som moderno e intimista, que rompia com os padrões da época. Músicos como João Donato e Antonio Carlos Jobim logo perceberam que algo novo estava nascendo.

Primeiros sucessos

Em 1952, Johnny Alf lançou “Falseta”, interpretada por Nora Ney, e chamou a atenção da crítica. Pouco depois, compôs clássicos como “Rapaz de Bem” e “Eu e a Brisa”, esta última eternizada na voz de Márcia, em 1968. Suas composições traziam harmonias complexas e letras delicadas — características que, anos mais tarde, definiriam a bossa nova.

Mudança para São Paulo

Em meados dos anos 1950, Alf se mudou para São Paulo, onde passou a tocar em casas noturnas como o lendário João Sebastião Bar, ponto de encontro de artistas e intelectuais. Lá, jovens músicos como João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal se inspiraram em seu estilo. Muitos reconhecem que Johnny Alf foi uma das principais influências na formação da bossa nova.

À frente do tempo

Mesmo admirado pelos colegas, Alf nunca alcançou grande sucesso comercial. Sua música era considerada sofisticada demais para o público da época, e seu temperamento discreto o manteve afastado dos holofotes. Ainda assim, lançou álbuns importantes, como “Desbunde Total” (1978) e “Nós” (1987), reafirmando sua elegância e originalidade.

Reconhecimento e legado

A partir dos anos 1990, críticos e músicos passaram a reconhecer Johnny Alf como precursor da bossa nova. Ele, porém, nunca reivindicou esse título: “Não inventei nada, apenas toquei do meu jeito”, dizia. Sua obra foi revisitada por artistas como Joyce Moreno, Caetano Veloso e Gilberto Gil, consolidando sua influência na MPB.

Últimos anos

Johnny Alf viveu seus últimos anos em Santo André (SP), onde continuou se apresentando em pequenos shows. Faleceu em 4 de março de 2010, aos 80 anos, deixando um legado de sensibilidade e inovação.

Hoje, é lembrado como o elo entre o samba-canção e a bossa nova, um músico que antecipou, com o piano e a sutileza, uma revolução na música brasileira. Johnny Alf mostrou que a modernidade pode nascer do silêncio — e da coragem de ser diferente.

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