Texto de Álvaro Roux Rosa ( Bernardo M Sampaio )
A filosofia e moral humanas, além de se repetirem pelas gerações, também rimam.
Decorremos de problemas e questionamentos colocados em nosso campo de visão de tempos em tempos. Evidentemente, como de costume por nossa parte, a vida e a morte são temas que sobrevoam o cotidiano de cada um de nós. Essas questões costumam girar em torno de um ponto temático complementar: o controle. O mesmo controle que decide como e se outros seres devem ou não viver.
A projeção do desejo de dominância é mais relevante do que muitos pensam. Qualquer assunto relacionado com a dinâmica de classes sociais já se enquadra em termos de alteração e manipulação da qualidade de vida. Posicionamentos políticos são mergulhados em projetos e planos de como alterar a vivência pública. Debates sobre autodefesa entram em colapso quando a ameaça de morte se mostra aparente. Em resumo, a potência e impacto da vontade de querer transmutar a realidade, como seres humanos, são fatores claros.
A evolução desse processo de pensamento permanece relativamente simples. Uma vez que a humanidade conseguiu cobrir suas necessidades mais básicas, a sede e busca pela capacidade de controlar tudo o que é possível entraram em ação aos poucos. Quando descobriram o real potencial de destruição e criação, dilemas não faltavam. O mesmo vale para o desenvolvimento individual humano, por exemplo. Começamos dependentes de nosso ambiente e nos alimentamos de debates internos e externos complexos de maneira gradual. Nossa existência se torna uma versão simplificada e contida da história da raça humana como um todo.
Com a discussão introduzida, a contradição do controle se revela. Nossas mãos são as mesmas que podem construir, proteger e cuidar, mas também destruir, matar e agredir. Ações tão diferentes que podem parecer opostas, mas que também são de moralidade neutra e apenas possuem significado quando são atreladas aos seus propósitos no contexto dado. Um destrói uma barra de ferro que o prende no chão, outro protege uma erva daninha em sua plantação.
O caminho contraditório se abre no momento em que compreendemos nossa diversidade. Se apenas há um único lado, não existe o que controlar. Infelizmente, tentar construir uma resposta para o que o controle deveria ser usado não funciona ao considerar humanidade como um todo. No grande esquema de tudo o que há, ela não existe como uma real verdade. Podemos ir pelo caminho direto e tentar respeitar todos que conhecemos até o nosso limite, já que os seres humanos possuem aspectos únicos e semelhantes entre si que devem ser reconhecidos e esperados por sequer existirem. Com esse raciocínio, entretanto, as áreas moralmente cinzas de nossas mentes se ativam eventualmente.
Limitações não são as mesmas para muitos, o respeito é um fator individual variável e existem até aqueles que não o valorizam. Pela ignorância e más circunstâncias, nunca haverá harmonia. Com isso, a contradição se solidifica, mostrando que o controlável é descontrolado. As decisões políticas, sociais e culturais que forjam as ruas influenciam diretamente nessa manipulação. De todos os lados, indivíduos e grupos irão sempre discordar. A amarga verdade é que, de fato, o domínio não existe. No máximo, há um equilíbrio de desespero. Por natureza, somos todos iguais e diferentes. Como a mentalidade filosófica é altamente debatível e interpretativa de acordo com cada realidade única, o conceito se torna virtualmente impossível. A raça humana, pela ironia do destino, possui o poder necessário para decidir o que pode ser controlado, enquanto sua maior fraqueza é a indecisão.



