Por Alessandro Monteiro
São tantos os problemas, que fica difícil enumerar tamanha crise, que a cidade do Rio de Janeiro vem enfrentando. Entra ano, sai ano, muda governo, partido e tudo permanece favorável aquela meia dúzia que articula os esquemas da cidade. Ainda sobre a problemática dos hospitais de campanha, a corrupção levou mais de um bilhão de reais, o governo pagou 90% a mais por leito nos dois hospitais de campanha estaduais inaugurados e segue tudo na maior normalidade.
Na última semana, o IABAS se disse “vítima da falta de gestão e transparência das ações do Estado a respeito dos hospitais de campanha”, dá para acreditar? O secretário de Saúde em exercício, Alex Bousquet, autorizou a desativação dos hospitais de Nova Friburgo, na Região Serrana, e de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que curiosamente nem chegaram a receber pacientes.
O valor somado e previsto em contrato para esses três hospitais chega a R$ 770 milhões, conforme acordo firmado entre a Secretaria de Saúde do Estado e a Organização Social Iabas. Meio a tudo isso, tivemos a soltura do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, que na última quarta-feira (12), teve sua delação premiada homologada pelo STF.
O ex-secretário afirmou o envolvimento do governador Wilson Witzel, no esquema de desvio de dinheiro, que tenta a cada dia, uma nova estratégia para barrar seu pedido de impeachment negociando secretarias e uma lista infinita de cargos comissionados. Uma lástima para o bolso do povo, vítimas da incompetência e falta de gestão e justiça. No entanto, é bem provável que Witzel caia ainda esta semana.
Já o prefeito Marcelo Crivella, continua com os olhos vendados para a crise na cidade e a grave situação dos hospitais. O foco agora é o tal aplicativo para reserva de vaga na praia. O que parece ser piada, é a mais pura verdade.
A Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) entrou com pedido esta semana, para que Crivella se torne inelegível até 2026. O processo trata especificamente do abuso político e religioso daquele caso em que o jargão era “Fala com a Márcia”, que na ocasião o prefeito pediu para que “irmãos” procurassem à servidora Márcia caso alguém tivesse “problema de catarata” ou varizes.
Em relação ao aplicativo, o prefeito já virou motivo de chacota nas ruas e meme de internet, desqualificando ainda mais o seu governo. Segundo Crivella, as pessoas poderão ocupar as demarcações com reservas feitas pelo aplicativo, que busca organizar a frequência dos banhistas. E quem não tem celular? Palhaçada, não acham? Como se fosse de fato funcionar como manda o figurino.
Porém, nada consegue intimidar ou conter os cariocas, que diariamente desrespeitam os decretos, lotando praias, bares, praças e realizando eventos na zona norte da cidade. Os flagrantes de aglomeração são diários e tendem a aumentar, com todas essas medidas de relaxamento da fase seis, que boa parte foi autorizada, mas pelos índices altos da Síndrome Gripal, ouros grupos aguardam liberação.
Na quarta-feira (12), a cidade registrou 104 mortes diárias, um pouco mais de 14.300 óbitos no geral e quase 186.000 casos confirmados do novo coronavírus. Paralelo a isso, a crise só cresce na saúde, que por falta de pagamento de salário, medicação e condições mínimas para garantir a boa qualidade de vida da população, mantendo alguns hospitais parcialmente fechados sem atendimento ao público.
É fato, que os índices estão caindo fortemente, mas não é possível relaxar tanto e fazer vista grossa para os novos casos que poderão surgir, nesse vai e vem de informações e falta de gestão. A cidade que hoje tem, mas de 800 mil desempregados, 60 restaurantes que encerraram suas atividades e tantos outros que ainda lutam para manter as portas abertas.
Tanto dinheiro empregado, que poderia ser revertido em programas em apoio aos pequenos e médios empresários, escolas, creches, máscaras gratuitas, kits de higiene e por aí vamos agonizando durante esses 5 meses de pandemia. Até o momento, as vendas do comércio ainda não conseguem emitir qualquer reação de melhoria. De acordo, com o Clube dos Diretores Lojistas do Rio, tudo parece andar na contramão da maioria das capitais do país.
Aldo Silva, presidente do CDL afirma que somente a união entre o poder público e as entidades de classe representativas do comércio e da sociedade podem salvar a crise que está somente no início. As demissões são diárias, a fome chega à mesa e como fica o chefe de família? Sem trabalho, não podendo contar com programas do governo e ainda de quarentena? Certamente tudo isso é um prato cheio para o crescimento da violência e a desigualdade social.
O que fica difícil analisar é a dificuldade na gestão do governo que venda os olhos para a expansão das milícias no território urbano, dominando bairros, ruas, famílias e cidadãos de bem, que são obrigados a o “pedágio”, do crime paralelo.
Bairros como Recreio dos Bandeirantes, Jacarepaguá, Itanhangá e Engenho da Rainha, viraram quartéis da milícia carioca que clandestinamente constroem empreendimentos e condomínios ilegais.
Nem a pandemia, foi capaz de frear as obras, que denunciadas por moradores, permanecem em execução. Prédios com piscinas e saunas considerados de luxo para uma classe média assalariada que busca através da clandestinidade, realizar o sonho da casa própria.
Nessas regiões, também existem muitos edifícios inacabados, como gente morando sem chamar atenção, como estratégia de burlar a fiscalização e consequentemente, a fiscalização. Embora a prefeitura tenha realizado algumas ações nessas áreas, a coisa ainda segue “na flauta”, como dizem por aí.
No topo da cidade, o Cristo Redentor, de braços abertos, escolhido como um das maravilhas do mundo, a beleza do Píer Mauá dando boas-vindas aos turistas e as belas praias cariocas mundialmente desejadas por tantos, me lembram a música “Cartão Postal” de Cazuza, que numa das estrofes diz que “Tudo é tão simples que cabe num cartão postal, e se a história é de amor, não pode acabar