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CPI da Pandemia começa com discursos contraditórios e longe de respostas

 Por Guilherme Abrahão

A CPI da Pandemia foi instaurada e já iniciada na última semana, mas ainda não há nada que possa ser considerado esclarecedor. Foram ouvidos pelos senadores os ex-ministros da saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, além do atual Marcelo Queiroga. Entre os assuntos mais comentados até agora, estão as questões da hidroxicloroquina, onde o presidente Jair Bolsonaro foi acusado de – entre outras coisas – até pedir para os ministros no cargo trocassem a bula do medicamento para ser indicado para o tratamento, tanto preventivo como de cura, da Covid-19

Apesar de abordado em diversas oportunidades, e mesmo com crises que envolveram afastamento de governadores e prefeitos e até que levou ao impeachment de Wilson Witzel no Rio de Janeiro, a CPI segue abordando apenas o governo federal e não foi estendida para estados e municípios. Inclusive, nenhum dos ouvidos até agora foram questionados sobre os desvios realizados até agora, como em caso de dinheiro para respiradores, pelos senadores que comandam a Comissão Parlamentar de Inquérito. Se no Rio, Witzel foi “impeachmado”, em Santa Catarina, o governador Carlos Moisés, afastado desde março do cargo, foi absolvido do crime de responsabilidade na compra de respiradores e vai retornar a sua função.

O primeiro a ser ouvido pelos senadores foi Luiz Henrique Mandetta. Ele evitou o confronto direto com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e justificou suas decisões à frente do ministério. Nas raras vezes em que cruzou a fronteira, acusou os filhos do presidente de interferir em decisões do governo sobre a pandemia. Em uma diálogo que presenciou, Mandetta confirmou que os filhos do presidente estavam em combate direto com a China

“Vi uma reunião de ministros em que o filho do presidente, que é vereador no Rio de Janeiro – Carlos Bolsonaro – estava sentado, tomando notas. Já o Eduardo estava em rota de colisão com a China. Eu fui em uma reunião no Palácio do Planalto em que estavam os três filhos do presidente e mais assessores e disse a eles que precisava falar com o embaixador da China. Posso trazer aqui? ‘Não’. Eles tinham dificuldade de superar essas questões”, destacou em seu depoimento.

Substituto de Mandetta na pasta, Nelson Teich foi o segundo a ser ouvido pela CPI. O médico ficou no Ministério da Saúde entre 17 de abril e 15 de maio apenas, e confirmou para os senadores que deixou a posição após “divergências sobre a cloroquina” com o presidente Jair Bolsonaro. O médico declarou que, em seu curto período no cargo, percebeu que não teria a autonomia necessária para conduzir a pasta da forma que acreditava ser correta. Ao ser perguntado pelo relator Renan Calheiros sobre pedidos ou sugestões que chegavam ao ministério e contrariavam as evidências científicas, ele repetiu a “expansão da cloroquina”. 

QUEIROGA DESVIA DE PERGUNTAS

Além dos ex-ministros da saúde, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, também já foi ouvido pela primeira vez na CPI. E desvio da maioria das perguntas que envolviam o presidente Jair Bolsonaro. Ele comentou que presenciou o presidente defender o tratamento precoce “em uma única oportunidade”, em uma visita a Chapecó. Além disso, o cardiologista afirmou que nunca foi orientado a usar a cloroquina, indo de encontro a Nelson Teich.

Nelson Tech também já falou na pandemia

“Não recebi (orientação). Essa é uma questão técnica que tem que ser enfrentada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Sou instância final decisória, e posso ter que dar um posicionamento acerca disso”, disse.

Após ser abordado pelo presidente da CPI, Omar Aziz, que deveria responder diretamente às perguntas, por ser uma testemunha, Queiroga rebateu.

“Existem correntes, uma defende e a outra é contrária. Precisa de um protocolo técnico, e isso tem que ser avaliado quanto ao mérito da evidência científica, isso é colocado em audiência pública e o ministro é a instância final”, reiterou, o ministro que deve ser ouvido ainda mais uma vez pela CPI.

O general Eduardo Pazuello cancelou sua ida à CPI porque teria tido contato com dois militares diagnosticados com covid-19 no fim de semana. Espera-se que ele preste esclarecimentos sobre veias centrais da investigação do Senado: a demora do Governo para comprar vacinas e a suposta omissão na crise de oxigênio em Manaus.

Pazuello foi o ministro que passou mais tempo à frente da Saúde durante a pandemia e tem sido orientado pelo Planalto sobre como depor aos senadores. Ele será ouvido no próximo dia 19.

CPI SEGUIRÁ EM MOMENTO INOPORTUNO

Mesmo com o número crescente de óbitos em todo o Brasil, a CPI da Pandemia seguirá atuando normalmente, apesar de ser em um momento extremamente inoportuno. De caráter político, a Comissão Parlamentar de Inquérito, com respaldo do Supremo Tribunal Federal (STF), não deverá ir a fundo nas questões que envolvem as falhas gerais em estados e municípios. A ideia central, até agora, é apenas procurar falhar que liguem os erros ao presidente Jair Bolsonaro.

Presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes

Porém, enquanto faz essa averiguação, o número de óbitos no Brasil atingiu nesta semana 416.949, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde. A região que mais teve mortes foi a Sudeste, que ultrapassa os 190 mil. No país, ao são mais de 13 milhões recuperados, além de 15 milhões de pessoas totalmente vacinadas, isto é, que já receberam as duas doses do imunizante. Até aqui 46,5 milhões de doses já foram aplicadas, sendo 31,5 milhões na primeira dose, cerca de 7,1% da população de 210 milhões.

Só no Rio de Janeiro, os números apontam um total de mais de 45 mil mortes e mais de 770 mil casos, sendo destes cerca de 696 mil recuperados. Na cidade carioca foram imunizadas totalmente mais de 741 mil pessoas, e foram aplicadas mais de dois milhões de doses.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante o lançamento da Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

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