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Para 2022 desejo que haja desejo

E, finalmente, eis que o ano de 2021 vai se encerrando. Um ano difícil, que parece ter se entrelaçado ao ano de 2020, nos deixando a impressão que não chegaria ao fim. Marcado por vórtices de sentimentos, da angústia à esperança, 2021 foi um ano inquietante.

No desassossego de nossas lutas diárias, todos nós, em algum grau, sofremos o peso da rotina fatigante de uma pandemia que se arrasta e suas diversas consequências psíquicas e emocionais; o que tornou, particularmente, mais estressante um período que, apesar de reservar um caráter de união e alegria, costuma nos deixar à flor da pele.

Segundo uma pesquisa do Isma-Brasil, o nível de estresse do brasileiro sobe, em média, 75% no final de cada ano. Tendo em vista os tempos inóspitos em que vivemos, não é difícil constatarmos que estamos em um momento delicado, em que se faz necessário um maior cuidado com a nossa saúde mental.

Se o fim de ano, geralmente, leva a um desequilíbrio emocional marcado, por um lado, por depressões e ansiedades sazonais, e, por outro, por um empuxo aos excessos, neste fim de ano, a profusão de sentimentos desconexos parece ter nos tomado de assalto; a tal ponto que é comum encontramos sujeitos que estão muito mais empolgados pelo fim de 2021 do que, propriamente, pelo início de 2022.

É como se navegássemos num mar revolto de sentimentos e sensações, totalmente desbussolados. À deriva na nossa radical humanidade, neste momento que nos surpreendemos nus diante da vida. Vulneráveis. Aquilo que não somos capazes de nomear nos atravessa com crueza, tirando o chão sob os nossos pés. E o que resta para além da angústia, do medo, do luto e da vontade pueril que o ano atravesse o portal do tempo levando com ele tudo isso que já não sabemos lidar? Resta o desejo.

Para a psicanálise, o desejo é aquilo que, não tendo objeto que o satisfaça na realidade, nos coloca em constante movimento. Nas palavras da psicanalista Ana Suy “desejo é movimento que não nos deixa descansar. Paradoxalmente, é no movimento desejante que a gente encontra algum tipo de paz”. Desejar, portanto, é o que nos mantêm vivos; ou melhor, nos faz sentir que, apesar de tudo, estamos vivos.

Para 2022, portanto, desejo que haja desejo!

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