Todos de minha vizinhança tinham olhos vermelhos. Nem uma alma sequer era capaz de descansar tranquilamente ao escutar o canto de Rodolfo, o cachorro. Aparentemente, sua presença era insuportável para todos os azarados que cruzavam seus caminhos com tamanha entidade. Apenas seu esplendor era capaz de abalar os batalhões.

Um dia, porém, houve um silêncio divino. Os poemas intermináveis do ser canino haviam finalmente cessado. A audiência, exausta, proclamou vitória. O sono deixou de ser um sonho inalcançável, tornando-se uma realidade direta que nem mesmo os mais célebres do reino mortal teriam a capacidade de replicar tal sensação por vontade própria.

O que antes era visto como um momento glorioso para um pequeno grupo de pessoas nada importantes, se transformou numa confusão total. A plateia, sem o seu ator principal, entra em desespero. O que havia realmente acontecido com o animal? Será que foi abatido? Ou será que apenas se cansou de seus ingratos ouvidores? De qualquer jeito, uma busca incansável por Rodolfo foi feita. Reviraram a cidade inteira, incontáveis abrigos de animais e diversos mercados, mas nenhum sinal de Rodolfo.

Após meses de procura, a real localização de Rodolfo, o infame, fora descoberta: ele havia deixado o seu posto na ingrata vizinhança e decidiu que estava na hora de ascender para as estrelas. Rodolfo foi encontrado cantando em uma feira musical, com direito a palco e até mesmo sessão de autógrafos.

Parece que todos os ensaios que ele fizera para a sua antiga plateia realmente deram frutos, afinal.