A falta de informação e, até mesmo sintomas que podem “mascarar” a doença, fazem com que o hipotireoidismo seja uma das enfermidades mais difíceis para um diagnóstico precoce. No Brasil, cerca de 10% da população feminina abaixo dos 40 anos e 20% entre 40 e 50 anos, sofrem da doença sem terem a certeza de que as alterações hormonais fazem parte de um quadro que pode, inclusive, acarretar em infertilidade precoce. Aline Ferreira, fisioterapeuta e musa do Império da Tijuca, é um desses casos onde os sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças, retardando o diagnóstico.
“Sempre fui muito ativa , fazia mil coisas ao mesmo tempo e, de repente, comecei a me sentir mais cansada do que o normal. No início, achei que era aquele efeito da pandemia , de ficar muito tempo em casa e dormir muito, e não dava conta de fazer as minhas atividades rotineiras. Até que eu comecei a ficar incomodada comigo mesma, com a minha prostração. Achei que era depressão por conta do isolamento, depois passei a achar que era síndrome do pânico porque eu tinha aqueles sintomas de ressecamento da boca e uma alteração de humor constante”, relata Aline que lista ainda a queda de cabelo, e a baixa autoestima como dois fatores muito frequentes entre os sintomas da doença.
O hipotireoidismo é uma diminuição da produção de hormônios da glândula tireoide, o que reflete no bom funcionamento cardíaco, na menstruação e respiração celular. O mau funcionamento da glândula, responsável por jogar secreções diretamente na corrente sanguínea, pode acarretar outras doenças e causar, inclusive a infertilidade precoce. O ganho de peso é outro sintoma característico da doença.
“Inicialmente eu achei que estava ganhando peso por conta da ociosidade provocada pela pandemia, perdi muito a minha capacidade física e me lesionava com qualquer movimento. A irritabilidade era algo constante também, mas eu atribuía a falta de contato com as pessoas, a falta de trabalho. Foi muito difícil ver meu corpo mudar, entrar de dieta e não ver o resultado, especialmente porque, no carnaval, a gente lida todo o tempo com a vaidade, com os pré-julgamentos das pessoas e a cobrança em torno do corpo em forma e aquilo me deixava cada vez mis triste”, comenta a musa do Império da Tijuca.
Após o diagnóstico, Aline, que vem se tratando há um ano, destaca também a importância do apoio familiar no processo. “A gente tem alterações bruscas de humor e, se não houver compreensão, a coisa desanda. Tenho que agradecer não somente ao médico endocrinologista que me acompanha, mas ao meu noivo, que esteve comigo todo o tempo, principalmente me ajudando a recuperar a autoestima. Passei a pesquisar muito sobre a doença e, sempre que posso, faço questão de falar sobre o tema nas minhas redes sociais. Precisamos dessa rede de apoio e viver um dia após o outro porque não se resolve este problema em um piscar de olhos”, diz ela que desfilou no carnaval de 2022 como passista da escola tijucana e que, em 2023 foi alçada ao posto de musa, levantando, com isso, a bandeira da aceitação do corpo e de um maior cuidado com a saúde entre as mulheres.
O diagnóstico do hipotireoidismo é feito através de exames de check up e o tratamento, através da reposição hormonal, além da mudança de hábitos, especialmente os alimentares. “ Me propus a cuidar da minha alimentação de maneira mais séria, até porque existem alimentos que não contribuem muito para que a gente saia deste quadro, além disto, estou fazendo exercícios físicos diariamente. O hipotireoidismo pode ser confundido até mesmo com preguiça, mas é algo sério e que precisa ser colocado na pauta feminina, em qualquer idade”, conta Aline.