O projeto ensina Jiu-Jitsu para crianças, adolescentes e adultos da Comunidade Vítor Dumas e busca apoio e patrocínio para continuar com as atividades

A vida nem sempre é fácil e justa para todos na mesma proporção, fazendo com que alguns precisem se esforçar mais que outros, muitas vezes com menos acesso aos recursos necessários para tirar planos do papel e realizar sonhos. Rodrigo Lima, sabe bem como é esse processo, mas mesmo com pouco, ele conseguiu se erguer e estender a mão para quem também passa por essa situação. Vamos conhecer o Centro de Treinamento Inácio Lima, projeto de Jiu-Jitsu, que transforma a vida de crianças, adolescentes e adultos, da região de Vítor Dumas, comunidade de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.

No ano de 2014, após um grande susto, Rodrigo Lima, hoje com 32 anos, viu sua vida mudar. Depois que seu professor e faixa preta na luta, Rodrigo Justa, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o então aluno, faixa azul, percebeu que não poderia deixar aquele projeto acabar, desestruturando tantos sonhos. A partir daquele momento, Rodrigo reuniu forças e iniciou seu projeto de luta na comunidade, com o objetivo principal de aproximar aquelas crianças de um futuro melhor e mais digno. Vale destacar que o Centro de Treinamento leva o nome do pai de Rodrigo, Inácio Lima, que, antes de falecer, deixou para o filho o espaço onde o projeto funciona até hoje.

Através do famoso “boca a boca”, ao longo dos anos a ideia deu certo e logo começaram a chegar os primeiros alunos do projeto, que passa a funcionar por meio de muita luta, dedicação e esforço, mesmo que em um ambiente precário e sem estrutura. Apesar de todas as dificuldades, Rodrigo se mantém firme no objetivo, ainda que sem nenhuma ajuda, contando apenas com a arrecadação das mensalidades, que são cobradas de acordo com a realidade do público-alvo que a academia tem o propósito de receber. O arrecadamento do projeto é baixo, aproximadamente R$70 por aluno e muitas pessoas participam das aulas de forma gratuita, por não terem condições de pagar esse valor social.

Muitas despesas, Rodrigo paga do próprio bolso, como por exemplo, locomoção para que os alunos participem de campeonatos, alimentação, uniformes, kimonos e tudo o que for necessário para colocar o projeto para frente e elevar a autoestima dos competidores, que tiram, do Centro de Treinamento Inácio Lima, forças para enfrentar as adversidades do dia a dia.

Rodrigo, que hoje, além de administrar o Centro de Treinamento, tem ainda dois empregos, onde atua com redes de telefonia e gere uma loja de açaí descreve com amor como é se desdobrar para que tudo continue dando certo e destaca a necessidade de apoio e patrocínio para manter a academia de luta.

“Eu via as crianças e pensava para onde aquelas crianças iriam. Já perdi amigos para o crime, para as drogas e não queria que isso acontecesse com elas, porque eu sabia que naquele período de aulas de luta, elas estavam se ocupando e isso dá chance de se afastarem daquela vida. Na maioria das vezes o meu trabalho não é apenas dar aula para as crianças ou colocá-las no esporte, mas também conversar, ser amigo e às vezes até uma figura paterna para esses alunos. Acabamos fazendo o trabalho que um psicólogo faz. No finalzinho de 2014 o meu pai faleceu, 10 dias depois o meu filho nasceu e tive que lidar com isso e pensar em fazer melhor para que ele tivesse um lugar onde pudesse crescer e ter amizades. Meu filho treina comigo desde os 3 anos. Sempre corri atrás, porque nunca tivemos nenhuma ajuda nem apoio político. Iniciamos com mensalidade baratinha para ajudar, já chegou a ser 40 reais para que todo mundo pudesse pagar. Moro a 10 km da academia e no início ia andando ou de bicicleta, mas nunca desanimei, ainda que eu tenha que trabalhar em dois empregos, dar aula e ainda tomar conta do negócio. Tem dias que as coisas ficam difíceis, mas eu faço porque amo demais essas crianças, para que tenham um futuro melhor e possam ser melhores. Meu orgulho é ver meus alunos formados e estou sempre cobrando e incentivando o esporte e os estudos”, expressou Rodrigo, que deixou claro que não conseguiria continuar avançando sem a ajuda de seu atual professor, João paulo. O Professor atua ao lado de Rodrigo e o incentiva a continuar avançando.

Uma das crianças incentivadas pelo projeto é o Nicollas Corrêa, de 13 anos, que treina no Centro há três anos. De acordo com sua mãe, Flancine da Silva Corrêa Santos, o esporte transformou a vida de Nicolas, que hoje acumula prêmios no Jiu-Jitsu.

“O Nicollas era um menino muito brigão, tanto na rua, quanto em casa. As pessoas chegavam a dizer que ele não iria dar para o que presta e além do mais ele é uma criança de personalidade forte. O Jiu-Jitsu trouxe mais leveza, disciplina e responsabilidade para o meu filho, a mudança é notória. Já enfrentamos dificuldades para locomoção e vestimenta adequada para as competições, mas nada disso nos abalou e em 2021 veio a primeira medalha. Tenho orgulho de dizer que ele já ganhou nove medalhas, sendo três de ouro”, disse a mãe do estudante do 8º ano do ensino fundamental.

Outro aluno que está tendo a chance de se enxergar vivendo um futuro melhor, é o Hiago Braga Teixeira, de 16 anos, que destaca sua gratidão por Rodrigo não o ter abandonado, mesmo quando ele desistiu do esporte.

“Eu era um menino muito bagunceiro, nunca fui agressivo, mas era bastante desrespeitoso e cheguei a ser expulso da escola quando cursava o 7º ano. Comecei a treinar com nove anos de idade, aos 13 anos precisei parar e nesse meio tempo o Rodrigo correu muito atrás e insistiu para que eu voltasse, ele nunca me deixou para trás. No final de 2019, eu decidi ir no treino só para visitar, e foi neste dia que ele me chamou pra conversar e falou que o Jiu Jitsu era mais que um esporte, que eu poderia trabalhar no meio esportivo e conquistar grandes coisas. Depois disso, minhas notas na escola foram mudando e depois que comecei a praticar Jiu Jitsu, fielmente, como um atleta, estava bem mais respeitoso com os mais velho e os professores. O Rodrigo me acolheu, me deu o amor e a atenção de um pai, que eu sempre busquei, e o centro de treinamento me deu uma família que não troco mais por nada. Então, eu comecei a acreditar que era possível conquistar grandes coisas se eu tivesse garra, além disso ele me ensinou a ser respeitoso com os mais velhos e a conviver no meio de outras pessoas” disse o estudante do 1° ano do Ensino Médio.

É importante dizer que no mês de junho, o Nicollas e outras crianças do projeto disputarão o Campeonato Sulamericano de Jiu-Jitsu, que acontecerá na Arena da Juventude, em Deodoro. Esta disputa é feita pela Federação CBJJ e trata-se de um campeonato muito importante para a trajetória  destes novos atletas.

Atualmente o projeto conta com aproximadamente 40 alunos, que participam de treinos com  duração de uma hora, de segunda a quinta-feira. Uma dessas alunas é a dona, Vânia Cristina Faria, de 54 anos, mãe de Rodrigo e campeã do Open brasileira de Jiu-Jitsu peso médio e Absoluto pela Federação CBJJ, em 2021. O que muitos não sabem é que Vânia, enfrenta um câncer no útero e encontrou no esporte e na academia do filho, motivação e força para enfrentar essa doença.

“O esporte foi e é importante na minha vida. Não consigo mais ficar sem praticar. Estou passando por um momento  de tratamento de saúde e isso estava me levando para a depressão, mas ultrapassei essa barreira indo para o Jiu-Jitsu e foi a melhor atitude que tomei. Me enturmei com pessoas bem mais jovens, que me fazem muito bem e com esse esporte tenho mais coragem e disposição para enfrentar muitos desafios, o esporte é tudo pra mim. Vou para as competições, fui campeã Brasileira e me sinto orgulhosa em poder  mostrar, principalmente, para as mulheres da minha idade, que podemos e devemos enfrentar as dificuldades fazendo um esporte. Além disso, me sinto muito orgulhosa pelo meu filho. O Rodrigo tem um amor muito grande pelas crianças e adolescentes que passam pelo Centro. Já aconteceu de ele precisar ir treinar a pé, isso é muita dedicação. Ele começou com quatro anos e trouxe para a vida esportiva o próprio filho também. Meu orgulho é imenso. Filho e neto no tatame, é tudo” finalizou Vânia.

Vale destacar que para continuar funcionando, o Centro de Treinamento Inácio Lima precisa de patrocinadores, que se sensibilizam com a causa e ajudem essas crianças, adolescentes e adultos a continuarem trilhando o caminho dos sonhos, em busca de um futuro melhor e mais digno.

Serviço:

Conheça o Centro de Treinamento Inácio Lima, que ensina Jiu-Jitsu para crianças, adolescentes e adultos de área carente de Santa Cruz, Rio de Janeiro e busca apoio e patrocínio para continuar com as atividades.

Local: Comunidade Vitor Dumas, Santa Cruz, Rio de Janeiro.

Contato: (21) 98102-2675 (Rodrigo Lima).