O imunizante, desenvolvido pela farmacêutica japonesa Takeda, tem previsão de chegar ao SUS no próximo ano, embora já esteja disponível para compra na rede privada
Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março deste ano, a imunizante Qdenga aguarda incorporação na rede pública de saúde brasileira. O Ministério da Saúde ainda negocia com a farmacêutica japonesa Takeda para disponibilizar a nova vacina desenvolvida contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS). O preço elevado e incertezas sobre a capacidade de produção e restrições no público-alvo que poderá receber as doses são fatores que estão sendo discutidos até o momento.
O órgão responsável por julgar a inclusão do medicamento na rede pública é a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). A farmacêutica Takeda apresentou uma proposta no dia 31 de julho, e a Conitec discutiu o tema e devolveu a proposta com um ofício de 10 perguntas adicionais sobre o imunizante no dia 13 de novembro. O ministério sustenta a necessidade de esperar por essa avaliação antes de determinar a disponibilidade do imunizante para a população.
“Com certeza a Takeda está muito disposta a contribuir com a vacinação através do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa era uma necessidade médica não atendida em termos de prevenção a esta doença com dados tão alarmantes no país”, disse a diretora executiva da Takeda, Vivian Lee.
Neste ano, o Brasil lidera o ranking mundial de casos de dengue, e já ultrapassou o total do ano passado. Segundo os últimos relatórios do Ministério da Saúde, são mais de 1,6 milhão de casos, 23,4 mil casos graves e 1.000 óbitos. Em comparação a 2022, o país contava com cerca de 1,4 milhão de casos, 16,3 mil casos graves e 1.016 óbitos pela doença.
Durante evento de lançamento da pesquisa sobre a percepção da dengue no Brasil, feita pelo Instituto Ipsos, a representante da Takeda reforçou que a farmacêutica possui toda capacidade técnica de atender ao número de vacinas exigido para os grupos prioritários que sugere no pedido ao órgão federal.
A Qdenga recebeu aprovação depois de apresentar eficácia de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves de dengue. A indicação é para pessoas de 4 a 60 anos, independentemente de já terem sido infectadas pela dengue ou não.
Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado recomendando a vacina contra a dengue da farmacêutica japonesa que atualmente já está aprovada em 34 países.
Os principais apontamentos levantados para negociação da proposta dizem respeito ao valor e a capacidade de imunização a nível nacional.
Valor
O preço por dose fixado inicialmente pela Takeda foi de R$ 170, considerado alto pelo Ministério da Saúde, mas, ao mesmo tempo, inferior ao estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), de R$ 281,42.
Entretanto, o valor, que ainda passará por outras negociações, está acima de todas as demais vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A dose mais cara hoje custa R$ 120.
Capacidade de Imunização
Além do custo por dose, o governo se preocupa quanto a capacidade de entrega das vacinas para toda a população que pode ser protegida pela Qdenga. De acordo com integrantes do ministério ouvidos pelo jornal O GLOBO, o receio se dá porque a Takeda não é uma produtora grande como a Pfizer ou o Instituto Butantan.
Embora a empresa não informe o total de doses oferecidas ao Brasil, ela assegura ter capacidade para atender a demanda dos grupos prioritários propostos ao Ministério da Saúde. “Considerando o histórico de incorporação de outras vacinas, esse volume é um dos maiores já disponibilizados por uma farmacêutica para uma campanha inicial de vacinação”, disse a empresa, em nota.
Apesar dos obstáculos, a porta-voz da Takeda no Brasil, Vivian Lee, diz estar confiante que a aprovação para incorporar o imunizante no SUS venha em janeiro de 2024. Desde julho de 2023, o imunizante pode ser adquirido na rede privada. Nas clínicas, as doses podem ser encontradas por valores que variam entre R$ 800 e R$ 1 mil no total das duas doses necessárias.
Por Gabriel Cézar