Estamos nos últimos dias deste ano e refleti, ao vir uma placa (em que estava escrito “Abraçe”) o quanto algumas frases ditas ou escritas acabam por causar reflexões em mim, que sou extremamente curiosa quando o assunto é a “Última flor do Lácio”, título de um dos poemas de Olavo Bilac. Ela mesma, meus caros leitores, a Língua Portuguesa, nossa companheira de todas as horas… Aquela temida disciplina que forçosamente nos acompanha desde a mais tenra idade quando ainda, já usuários da língua materna, proferimos frases, como esta: “Mãe, deixa que eu fazo sozinha!”. Que beleza! Essa construção comprova nossa percepção de que há um paradigma para a conjugação de verbos regulares! Falta-nos entender que nem todos o são, como é o caso do verbo fazer. Por isso, não há motivo para desespero! Quanto a esse uso, alguns dirão o seguinte: “Isso é construção típica de crianças!”. O que dizer, entretanto, de uma pessoa adulta que fala desta forma: “Eu não cabo mais nesta calça” ou “Eu mesma me maqueio, amiga.” ou “O fato deu falar alto…” ou “Estou fazeno outra faculdade!” ou “Quando eu ver sua foto de criança, direi se já era linda” ou “Por favor, me traga dois vestidos rosas para eu escolher!” ou “Nunca houve brigas entre eu e você!”. Essas e outras construções tão presentes em nosso quotidiano (Não se espante com essa grafia que é uma outra possibilidade de escrever e de dizer essa palavra!) são uma pequena demonstração de que o sistema linguístico apresenta variedades, embora alguns insistam que só há uma a ser aprendida e empregada: a norma-padrão. Que pequenez!
Não sejamos preconceituosos linguísticos, afinal quem nunca produziu umas das frases supracitadas? Quem nunca teve dúvida de como dizer ou escrever determinada palavra? Como você pronuncia “Deixa que eu fecho!”? Usa o timbre fechado para o “E”? Nossa sorte é termos um pernambucano que se dedica a explicar a nós, meros mortais, com maestria, sabedoria, genialidade, simplicidade, educação e amor, o seguinte ensinamento: “O falante do português dever ser poliglota na própria língua”. Nosso Professor Evanildo Bechara, imortal e membro da Academia Brasileira de Letras, é enfático ao declarar que “Muita gente pensa que a língua é unitária, homogênea, sem variedades”. Ainda bem que, como fã incondicional de Bechara (para quem fundei, com a amiga Cristiane Cardoso, o Fã-Clube As Becharetes”), sigo seus ensinamentos e propago a importância de sabermos transitar por todos os contextos (daí Bechara dizer que a ocasião faz o falante), empregando a variedade a esse contexto adequada, com a certeza de que nossa língua materna é uma preciosidade que precisa ser amada, explorada, respeitada e difundida, tamanha é sua potência! Use-a e dela se aproprie sem moderações, meus caros!