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Serra: Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates: uma Conspiração Separarista e Republicana inspirada na Revolução Francesa e na Haitiana

O século XVIII foi marcado por profundas transformações na história. Os princípios iluministas e a Independência dos Estados Unidos tiveram grande influência na Inconfidência Mineira e na Conjuração Baiana. Os ideais de liberdade e igualdade se contrastavam com a precária condição de vida do povo, que, juntamente, com as elevadas cargas tributárias e a escassez de alimentos, tornavam ainda mais grave, o quadro socioeconômico do Brasil.

Em meio a esta crise, foi fundada em Salvador a Academia dos Renascidos, uma associação literária que discutia os ideais do iluminismo e os problemas sociais que afetavam a população. Esta associação tinha sido criada pela Loja Maçônica “Cavaleiros da Luz”, da qual participavam muitos ilustres da região, como o doutor Cipriano Barata, Prof. Muniz Barreto, entre outros.

Ao contrário da Inconfidência  Mineira que foi idealizada por advogados, magistrados, militares, padres e ricos comerciantes, a elite da Capitania. A conjuração Baiana não se restringiu a uma elite de intelectuais e brancos livres. Teve a participação e mesmo a liderança dos deserdados brancos, pobres, mulatos, negros livres (que atuavam como alfaiates), escravos, pequenos comerciantes, artesãos, soldados , preocupados com os ideais políticos, sociais e econômicos da região. Foi a nossa mais importante revolta social. Não lutaram apenas para que o Brasil se separasse de Portugal;  advogavam, também, a modificação interna da sociedade que era preconceituosa, baseada nos privilégios dos grandes  proprietários e na exploração do trabalho escravo.

O movimento,  influenciado  pelas ideias sociais da Revolução Francesa, não se opunha, somente, ao colonialismo mas, também, aos ricos da grande elite. As palavras de ordem, os panfletos, os livros mais democráticos da Revolução Francesa e de seus pensadores, que entraram na Bahia, através de agitadores estrangeiros e das sociedades secretas, influenciavam as camadas populares de Salvador. “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, o  grito das massas parisienses, ressoava na Bahia.

As  ideias de  igualdade social difundidas numa sociedade em que apenas uma minoria da população era branca  e grande proprietária e exploradora, causava ressentimentos na maioria do povo, que almejavam derrubar a sociedade e os costumes vigentes para criarem uma sociedade igualitária, democrática, onde a barreira da cor não fosse empecilho para quem aspirasse aos mais altos cargos.

O baiano Manuel Faustimo, alfaiate pardo e forro, que sabia ler e escrever, dizia que a Conjuração levaria a formação de um governo em que brancos, pardos e negros seriam iguais. A nova sociedade estaria baseada apenas na  capacidade  das pessoas para governar e mandar. João Lucas, outro jovem soldado pardo, ainda estava preso a uma visão racial da revolução. Percebera que havia muito mais regimentos de soldados negros do que brancos e que se os  negros quisessem, ninguém poderia resistir ao seu ataque. O pardo Manoel de Santa Ana era mais radical na sua pregação. Achava que o povo deveria matar todos os senhores, saquear os bens das pessoas opulentas, libertar todos os escravos e  criar uma nova república de igualdade. O governo seria democrático, livre e soberano.

Os brancos da elite baiana, também, estavam , em boa parte, imbuídos dos ideais da Ilustração Francesa. Mas limitavam-se a discutir e propagar os ideais do liberalismo. Queriam a liberdade do comércio, o fim das imposições metropolitanas, a autonomia política. Mas, depois de 1792, começaram a temer uma  revolução, por conta dos moldes da Revolução do Haiti, que os assustava. Temiam que , como no Haiti, se deflagrasse uma revolução , os negros liquidariam todos os grande proprietários brancos, portugueses e brasileiros. Cipriano Barata um dos grandes revolucionários brasileiros advertia os proprietários  brancos conterrâneos para que  tivessem cuidado, pois temia uma revolta dos negros, escravos e  mulatos livres. Num pais de  escravatura, a revolta  era perigosa pois poderia despertar os negros. Cipriano Barata pregava entre os negros e mulatos,desistimulando o levante, dizendo que seria os franceses, após a Revolução Francesa terminar, que viriam para libertar o Brasil.

A conspiração do movimento, gerada por problemas peculiares à situação da Bahia, surgiu com discussões, promovidas pela Academia dos Renascidos , e  com a participação dos pequenos comerciantes, intelectuais, estudantes que participavam de reuniões secretas, ao lado de soldados, artesões e funcionários para ouvirem notícias da Revolução Francesa, chegadas da Europa, e, discutir os princípios liberais no Brasil. Folhetos clandestinos chamados “Pasquins” foram editados e distribuídos por diferentes  pontos  da cidade de Salvador. Estes panfletos incitavam a população a se rebelar  contra o domínio metropolitano. Os conspiradores defendiam a Proclamação da República Bahiense, o fim da escravidão e a implantação do livre comércio.

Vários foram os que se destacaram , entre eles, Cipriano Barata um ativista e propagandista , João de Deus Nascimentos e Manuel Faustino dos Santos (pardos e alfaiates) Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas Amorim Torres e Tenente Aguilar Pantoja (chefe militar do movimento) , além de muitos outros alfaiates simpatizantes da revolta, daí o porque da Conjuração Baiana  ser, também, conhecida como Revolta dos Alfaiates.

Em 12 de agosto de 1738, as ruas de Salvador estavam tomadas por revolucionários que distribuiam panfletos ,para obter mais apoio popular,que   difundiam palavras de  ordem ( Animai-vos povo bahiense que está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade), com base naquilo que as autoridades coloniais coloniais chamavam de “abomináveis princípios franceses”. A violenta repressão metropolitana conseguiu estagnar o movimento que apenas iniciava-se, detendo e torturando os primeiros suspeitos. Governava, na época D. Fernandes José de Portugal e Castro, que encarregou Alexandre Teotônio de Souza para surpreender os revoltosos. Com as delações, os principais líderes foram presos e o movimento que nem chegou a se concretizar, foi totalmente  desarticulado.

Após o processo de julgamento, os mais pobres, como João de Deus do Nascimento, Luiz Gonzaga e Lucas Dantas foram condenados á morte, por enforcamento. Executados no Largo da Piedade em novembro de 1799. Outros como Cipriano Barata, tenente Hermógenes d’Aguilar e professor Francisco Moniz foram absolvidos. Inácio da Silva Pimentel, Romão Pinheiro, José Félix , Inácio Pires, Manoel José e Luiz da Silva Pires foram acusados de envolvimento “grave”, recebendo penas de prisão perpétua ou degredo na África. Já as pessoas pertencentes a loja Maçônica “Cavaleiros da Luz” foram absolvidos deixando clara que a pena pela condenação, correspondia à condição socio-econômica. A extrema dureza na  condenação aos mais pobres, em sua maioria negros, pardos e mulatos era atribuídamao temor de que se repetissem , no Brasil, as rebeliões de negros e mulatos que, na mesma época, atingiam Santo Domingos, nas Antilhas , Colônia Francesa, hoje atual Haiti.

A Conjuração Baiana  ou a Revolta dos Alfaiates não conseguiu atingir seus objetivos. Porém a população, através deste movimento, já naquela época, buscava uma sociedade mais justa e com direitos de cidadãos assegurados.

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