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‘O Avesso da Pele’: entenda a polêmica

Governos estaduais do Sul e do Centro-Oeste determinaram o recolhimento da obra nas escolas, alegando que o livro possui linguagem imprópria

A distribuição do livro “O Avesso da Pele” em escolas do Brasil tem sido o centro de intensos debates envolvendo política, educação e liberdade cultural. A controvérsia teve início quando uma diretora escolar em Santa Cruz do Sul (RS) criticou a obra, alegando que seu conteúdo era inadequado para estudantes do ensino médio. O caso ganhou ainda mais destaque com a propagação de informações incorretas, atribuindo a distribuição do livro ao governo do ex-presidente Lula (PT), quando na realidade ocorreu durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

O livro, escrito por Jeferson Tenório, foi aprovado para integrar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) em 2022, sendo destinado ao ensino médio. No entanto, a decisão de adquirir e utilizar o livro em sala de aula cabe às escolas, não ao governo federal. No caso específico da denúncia em Santa Cruz do Sul, a própria diretora que criticou a obra foi responsável por solicitar sua inclusão no acervo da escola.

A polêmica suscitou debates acalorados sobre liberdade de expressão, qualidade da educação e o papel do Estado na seleção de materiais didáticos. Enquanto alguns defendem a censura ou restrição de acesso à obra, argumentando que seu conteúdo é inadequado para adolescentes, outros afirmam que a literatura deve ser valorizada como um instrumento de reflexão e debate sobre questões sociais e culturais.

O autor do livro, Jeferson Tenório, pronunciou-se sobre o caso, destacando que “O Avesso da Pele” aborda temas relevantes como o racismo e a violência sofrida por pessoas negras e periféricas. Tenório enfatizou que a obra não tem a intenção de promover a sexualização de crianças, como foi erroneamente sugerido, mas sim de denunciar as desigualdades e preconceitos presentes na sociedade brasileira.

Além das críticas direcionadas à obra, a polêmica também levantou questões políticas, com figuras do governo atual sendo criticadas por supostamente apoiarem a distribuição do livro. O Ministério da Educação esclareceu que a inclusão de obras no PNLD é feita mediante solicitação das próprias escolas e que o governo não interfere na escolha dos materiais didáticos.

Recentemente, o estado de Mato Grosso do Sul determinou o recolhimento dos exemplares do livro, sendo o terceiro estado a fazer tal ato, após os estados de Santa Catarina e Goiás. As justificativas para a medida incluem a consideração de que o conteúdo da obra contém passagens inadequadas para menores de 18 anos. No entanto, a Companhia das Letras, editora responsável pelo livro, classificou a medida como um grave ataque à liberdade de expressão e ao pluralismo de ideias.

Enquanto isso, o autor Jeferson Tenório denunciou o que chamou de “censura” ao livro, ressaltando que nenhum órgão tem o direito de determinar o recolhimento de materiais pedagógicos de uma escola.

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