Álvaro Roux Rosa
Carta 1: Metade do Infinito
Eu o saúdo, seja quem for que estiver lendo essa carta. Se a encontrou, peço que não apenas a
leia, mas sim a entenda.
Quero que pense em tudo o que existe de uma vez só. Difícil, não? Seria praticamente
impossível. Já vivemos nossos dias sendo bombardeados por desentendimentos e com nossos
cérebros em desordem. Aumentar ainda mais as informações que processamos seria uma
receita para o desastre. Agora, tente pensar na metade de tudo. Assumindo que o grande todo
seja infinito, isso também aparentaria ser uma tarefa sem razão ou insana. Nesse caso, porém,
é diferente. Uma pessoa que tenta pensar em tudo o que há de uma vez só mastiga mais do
que consegue engolir e entra em exaustão, ou fica maluca, ou fica cansada, ou volta pra
mesmice de sempre. Pensar em tudo em segundo plano em uma frequência diferente, por
outro lado, já se mostra como um caso mais interessante e capaz. Uma metade do tempo para
o necessário e a outra para pensar sobre os grandes mistérios e segredos não descobertos. Se
preferir, pode até usar outras métricas. Seja um quarto, um sexto ou até mesmo um
centésimo. Uma fração do infinito permanece infinita. O grande poder do pensamento, da
capacidade de potencial imaginativo e de aprendizado se torna presente uma vez que o ser
humano compreenda que a metade do infinito ainda é infinita.
Quantos infinitos estão na sua vida, hmm?
Carta 4: Enigma
Eu o saúdo, seja quem for que estiver lendo essa carta. Se a encontrou, peço que não apenas a
leia, mas sim a entenda.
Alguns anos atrás, eu saí com minha esposa para tomarmos café da manhã. Nos sentamos,
pedimos o que queríamos e começamos a comer. No meio do processo, ela me pergunta se eu
gostaria de tentar resolver um enigma que ela mesma criou. Intrigado, respondo que sim. “Um
monge que mora nas colinas está em uma jornada para chegar no topo da montanha. Passam-se
três dias e três noites até chegar no topo durante o nascer do sol. Poucos segundos depois
de chegar e observar a vista, porém, ele murmura alguma coisa e volta para sua casa. Por qual
motivo ele voltou?” A pergunta me deixou perplexo. Fiquei o dia inteiro tentando gerar
alguma explicação coerente. “Será que o fato dele ser um monge é relevante? Talvez o
número de dias e noites seja?” Quando já era de noite, tentei dizer para ela o que eu achava
que era a razão. Disse que ele voltou porque a posição do sol atrapalharia sua meditação. No
fim das contas, não havia resposta certa. Ela apenas queria ouvir minha interpretação
justamente por ser algo vago. E é por conta de momentos como esse que eu me casei com
ela…
Existem certas situações que são menos profundas do que parecem. Como que você
“interpreta” o mundo ao seu redor?