Jornal DR1

Ars Gratia Artis: Fuga do Centauro

(Dante Milano)

Surpreendi-a numa gruta,

O corpo fosforescente

Como uma Santa! Porém,

Rindo, quase com desdém,

Do meu êxtase inocente,

Toda nua e transparente,

Sob o véu, numa impudente

Postura de prostituta.

Receoso, tentei fugir.

Ela pegou-me das crinas,

Em minhas costas montou

E meus flancos esporeou.

Quis domar-me com mãos finas.

Ah, que tu não me dominas!

Logo aflaram-me as narinas

E comecei a nitrir…

Fui beijá-la e dei dentadas.

Havia sangue em seu gosto.

Espanquei-a com carícias,

Massacrei-a de delícias.

Arrastei-lhe o corpo exposto,

Nua, o gesto descomposto,

E pus-lhe as patas no rosto.

— Ela dava gargalhadas.

Estatelada no chão,

Saía dela um calor

De forno, que a consumia,

Um hálito de agonia

E de esquálido suor.

E, vendo-a perder a cor,

Sentia nela o sabor

De toda carne: extinção.

Afinal me libertei

Do seu espantoso abraço

E larguei-a quase morta.

Esvaída, a boca torta,

As mãos hirtas, o olhar baço.

Afastei-me, firme o passo,

Respirando um novo espaço,

Vitorioso como um rei.

Ela ergueu-se e, de mãos postas,

Pediu-me, ao ver-me partir,

Que jamais a abandonasse.

Tinha lágrimas na face.

A princípio, eu quis sorrir:

Voltar, depois de fugir?

E fugi, mas a nitrir,

Com ela nas minhas costas…

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