Conheça quem foi o artista brasileiro que viveu 50 anos em instituições psiquiátricas
Arthur Bispo do Rosário foi um artista plástico brasileiro que, por sofrer de esquizofrenia, morou em diversas instituições psiquiátricas por quase 50 anos. Só foi após a sua morte, e devido a sua história que Bispo começou a ter reconhecimento no Brasil e no exterior.
Pouco se sabe sobre sua infância, mas há registro de seu ingresso na Escola de Aprendizes Marinheiros, em Aracaju, no ano de 1925. No ano seguinte Bispo vai à cidade do Rio de Janeiro, onde se alista na Marinha de Guerra e permanece por nove anos. Ainda na Marinha, foi boxeador da categoria leve, mas anos depois foi expulso por indisciplina.
Anos depois, na noite do dia 22 de dezembro de 1938, Bispo tem uma revelação que mudaria sua vida: uma visão divina, na qual foi instruído por anjos a recriar o mundo em arte para apresentá-lo a Deus no dia do “Juízo Final”. Esse evento marcou o início de sua vida como artista e o levou a ser internado.
Passou a maior parte de sua vida internado na Colônia Juliano Moreira, um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro, nesta época, Arthur Bispo foi diagnosticado com esquizofrenia.
Entre o processo de aceitação e delírio, Bispo fugiu algumas vezes das internações e, em outras vezes, ao receber alta, tentou se readaptar ao mundo. Em 1964, ele ficou preso por 3 meses, em uma das celas do Pavilhão 10 do Núcleo Ulisses Vianna, por ter errado a dose no uso da força ao conter um paciente – um pedido constante dos funcionários.
Ao sair do confinamento, relata que “ouviu vozes que lhe diziam que chegara a hora de representar todas as coisas existentes na Terra para a apresentação no dia do juízo final”.
Utilizando materiais disponíveis no hospital, como tecidos, botões, sobras de uniformes e objetos descartados, ele criou peças que refletiam tanto suas experiências pessoais quanto suas visões espirituais e culturais. Sua obra inclui mantos, estandartes, esculturas, miniaturas, todas confeccionadas e bordadas com frases, nomes e imagens simbólicas.
Uma de suas obras mais famosas é o “Manto da Apresentação”, uma túnica azul bordada com nomes de pessoas e locais, que ele pretendia vestir no Dia do Juízo. Este manto é frequentemente visto como um símbolo de sua missão artística e espiritual.
Pobre, negro e considerado “louco”, Bispo passou a vida inteira à margem da sociedade, e não se considerava um artista e nem via seu trabalho como arte. “Essa é minha missão, representar a existência na Terra. É o sentido da minha vida”, dizia o artista.