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Deleite Linguístico: Onde está a criança que, um dia, você foi?

Vem chegando o Dia da Infância, comemorado mundialmente no próximo domingo, dia 24 de agosto. Já tinham ouvido falar dessa data comemorativa, meus Caros? Julguei válida a reflexão acerca dessa temática, talvez por eu ser saudosista dos tempos de infância, em que inexistiam boletos a pagar, responsabilidades a cumprir, decepções a superar, sapos a engolir… Ou por comungar do sentimento tão delicadamente explicitado pelo acadêmico Casimiro de Abreu, em cujo poema intitulado “Meus oito anos”, de junho de 1858, somos levados a rememorar atividades típicas de nossa infância. Eis o trecho:

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!                                                          

Dependendo de sua idade e de onde vocês moravam, meus Caros Leitores, certamente puderam experienciar tais sensações, que nos deixam decerto emotivos. Quantas descobertas! Quantas travessuras! Quanta inocência!

Em meu labor diário, enquanto professora, percebo diferenças entre nossa infância (minha e sua, Caro (a) Leitor (a)), e a infância de meu alunado. Por vezes, assusta-me o que vejo… O processo de adultização atrelado ao de erotização infantil mostra a toda a sociedade que crianças vêm sendo expostas a diversos estímulos, valores e estilos de vida pertencentes ao universo adulto, inadequado àquelas, portanto. Tais tendências infelizmente levam à indiferenciação entre crianças e adultos, o que implica situações lamentáveis… Será culpa da nova configuração social? Da falta de tempo dos pais, que precisam trabalhar demais e acabam não tendo o tempo para dedicarem-se com mais qualidade à criação de seus filhos? Será consequência da imaturidade dos genitores, que não sabem como orientar sua prole? As respostas são complexas. Lamento que a infância esteja sendo encurtada a cada nova geração. 

De toda a fase pueril, do que mais sinto falta é da sensação a que Casimiro alude nesta estrofe do poema supracitado:

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Como não existe “Control Z” para a vida, proporcionando a cada um de nós o refazer da última ação, o melhor é ressignificar certas experiências, a fim de jamais estarmos desacompanhados de nossa criança, como canta Milton Nascimento: “Há um menino, há um moleque/Morando sempre no meu coração/Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão.” 

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