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Compasso Composto: Arte X Retrocesso

Dia 1º de abril de 1964. Ironicamente, no Dia da Mentira, o Brasil viveria a execução de um golpe (já maquinado no dia anterior), no qual os militares assumiram o governo sob o pretexto de nos proteger da fantasmagórica “ameaça comunista”. Seguindo a linha dos anos de chumbo das ditaduras latino-americanas, a repressão emergiu em demasia, enquanto a liberdade de expressão naufragava gradativamente.

Em meados dos anos 1960, o Brasil teve o seu primeiro festival de música televisionado. O sucesso foi imediato e, logo, surgiram outros. A ideia era promover uma nova geração de artistas, os mesmos que ainda hoje são ícones nacionais. Faixas e apresentações com críticas fortes ao regime militar começaram a surgir e incomodar. Com o povo começando a ganhar voz através da arte, os militares fizeram jus ao termo “Ditadura” e começaram a perseguição de artistas transgressores. O grande hino “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, era a música preferida do momento. Tão intensa e polêmica (de acordo com o regime), a faixa foi sabotada a todo custo, e Geraldo, perseguido. Vandré teve que fugir do país, voltando apenas em 1973, sendo coagido a defender o regime em rede nacional. “O Geraldo Vandré morreu no final de 1968. Eu sou o Geraldo Pedrosa.”, teria dito Vandré a seu amigo, Jair Rodrigues.

Também em 1968, veio à promulgação do AI-5, dissolvendo o Congresso e instaurando a censura prévia em todos os espectros da arte. A perseguição a músicos se intensificou, causando a prisão e o exílio de grandes nomes, como Caetano e Gil. Como é notória a limitação que alas extremamente conservadoras têm em interpretação e compreensão artística, os músicos começaram a usar metáforas, alegorias e duplos sentidos para honrar a veia futebolística do brasileiro e driblar a censura.

A maior referência dessa estratégia sofisticada foi Chico. Músicas como “Apesar de Você” e “Cálice” escondiam mensagens subliminares contra o regime, sendo canções com teor aparentemente romântico e religioso. Além da música, Chico Buarque também explorou a literatura como forma de resistência, como no relevante “Fazenda Modelo”, uma sátira ao autoritarismo disfarçada de fábula política.

A Transição para a Democracia

Em 1979, com a Lei da Anistia, músicos exilados puderam retornar ao Brasil. Novas vozes ascenderam, como Cazuza e Barão Vermelho, expressando a angústia e a sede por mudança, não suportando mais o autoritarismo. Legião Urbana e Renato Russo capturaram esse mesmo sentimento de frustração da juventude. Já em 1984, com o movimento “Diretas Já” ganhando força, a música voltou a ser o maior veículo de mobilização. 1985 veio. Liberdade a troco de muita luta e heroísmo, e a música, a maior aliada contra o fascismo.

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