A escravizada que escreveu por seus direitos e de muitos

Nascida por volta de 1751, Esperança Garcia foi escravizada desde criança, vivendo na região da então Capitania de São José do Piauí, no Brasil colonial. Semelhantemente a muitos escravizados, ela foi separada de sua família e levada para trabalhar na fazenda Algodões, que pertencia aos jesuítas. Logo após a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, as terras ficaram para o governo colonial. Esperança foi transferida para outra fazenda, regida pelas autoridades.

O primeiro documento de reivindicação por direitos escrito por uma mulher negra no Brasil foi assinado por Esperança. Com um português formal, a carta foi enviada no dia 6 de setembro de 1770 ao governador da província do Piauí. Relando maus-tratos físicos e a falta de acesso a práticas religiosas, como o batismo de seus filhos; Esperança Garcia clamava naquela carta por justiça e melhores condições de vida para ela e outros escravizados.

Ao escrever, ela também pede que a transfira de volta para o convento onde havia aprendido a ler e escrever, um lugar que ela considerava mais justo. A escrita de Esperança demonstrou sua coragem ao se insurgir contra o sistema de opressão, um ato extremamente perigoso para uma mulher escravizada na época.

O documento foi escoberto nos arquivos do Piauí no século XX, que mostrou a figura até então desconhecida, se tornou um símbolo da resistência negra feminina no Brasil. 

Em 2017, Esperança Garcia foi oficialmente reconhecida como a primeira advogada do Piauí pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em uma homenagem simbólica ao seu ato por justiça. Sua história é relembrada no Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí, 6 de setembro. 

Em eventos culturais e obras que abordam a luta pela igualdade racial e de gênero no Brasil, ela é retratada com força. Esperança Garcia é celebrada como um exemplo de resistência, coragem e inspiração na história do Brasil.