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A cobiça pela Amazônia continua

Foto: Pixabay

A pesca na costa do Amapá está entre os maiores problemas de arrecadação de impostos do estado. Além da carne da gurijuba e da pescada amarela serem consideradas nobres no mercado externo, agrega também alto valor em função de sua bexiga natatória, o chamado “grude”.

O grude é extraído das vísceras do peixe. Após a extração, é colocada para secar ao sol em varais  ou estufas; ou nas próprias embarcações. O grude da gurijuba possui substâncias que, beneficiadas, produzem uma cola de altíssimo teor de adesão. Tem um alto valor nutricional, rico em proteínas, fósforo, cálcio e mucopolissacarídeos. O grude pode ser consumido por qualquer faixa etária de ambos os sexos e é uma espécie de alimento terapêutico. É um dos preciosos ingredientes tradicionais, iguaria gastronômica na Ásia, China, Malásia, Taiwan, Índia, Japão, Coréia e México onde é usado como fixador pelas indústrias de cosméticos e bebidas. Os ingleses usam como filtro e clareador de cerveja.

É também usada na indústria espacial, mas a cobiça mais valiosa dessa matéria prima está no comercio de linha para sutura cirúrgica, usada especialmente nos procedimentos internos devido ao baixo teor de rejeição e o alto poder de absorção pelo corpo. Os empregos dessas membranas são tantos que ainda não foi possível catalogar todos.

Pescadores de comunidades da costa do Amapá vendem para atravessadores a valores muito baixos, normalmente entre R$15 e R$30 o quilo, que são repassados para o exterior por valores que podem atingir de R$300 a R$1700, quando beneficiados.

Em uma única ação já foi apreendida, sem nota fiscal, na BR-210 cerca de uma tonelada de grude de peixe. A Agência de Pesca do Amapá informa que esse tipo de atividade acontece informalmente, não possui valor agregado e não há licenciamento para esse tipo de comércio, passando despercebido pelas autoridades do governo. Os peixes acima apreendidos estavam também em período de defeso (piracema), que ocorre quando emigram em busca de alimentos e condições adequada para reprodução.

Segundo o empresário José Luis F. Insua, especializado a décadas no comércio de peixe nacional e importado, “ocasionalmente, devido à preferência pelos produtores das vantagens financeiras atreladas ao comercio clandestino do grude, incide um impacto negativo na arrecadação tributária estadual e na qualidade dos peixes da região amazônica, que ficam comprometidas para o comércio doméstico”.

Em 2011 a exportação de grude chegou a mais de 200 toneladas pelos portos do Pará e do Amapá. Esse negócio movimentou, nesses portos, três vezes mais dinheiro que o comércio normal de gurijuba e pescada-amarela sob as barbas do governo federal. É incalculável o volume monetário já comercializado desta matéria prima para o exterior, assim como os prejuízos no mercado domésticos. Há quem comente que, neste grupo de atravessadores, podem ter direto contato com grandes empresários e agentes públicos, porém isto não está confirmado pelas autoridades.

O foco da clandestinidade do pescado amapaense está no município de Calçoene, onde a irregularidade já foi detectada pelas autoridades locais, que estão se preparando para o combate à ação ilegal de ‘supostos’ empresários. O mundo não desistirá da Amazônia, custe o que custar.

Sérgio Vieira – Engenheiro e jornalista – MTb 38648RJ

sergio.vieira@diariodorio.com.br

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