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A importância de cuidar do seu emocional em tempos de pandemia

Por Franciane Miranda

O Diário do Rio entrevistou a psicóloga Marina Prado Franco. Formada pela Universidade Federal de Sergipe, ela é especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CTC VEDA em São Paulo, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e realiza atendimento presencial e online. Possui experiência no atendimento com adolescentes e adultos. A terapeuta conversou sobre os riscos da depressão neste período de isolamento social.

O que é a depressão?
É um transtorno mental ou doença psiquiátrica que pode variar, por exemplo, no seu tempo de duração e intensidade dos sintomas, sendo o tipo clássico aquele que chamamos de Transtorno Depressivo Maior. De maneira geral, esse quadro traz sintomas ligados a uma tristeza recorrente acompanhados de alterações no comportamento e no pensamento do indivíduo.

Você acha que os casos de depressão podem aumentar neste período que passamos?
O período que passamos é de desafios e constantes incertezas, no qual os indivíduos podem não encontrar muito facilmente um sentido para o que estão vivenciando. Por isto, a fase que vivenciamos pode ser por si só um fator que predispõe o surgimento da depressão. Esse transtorno pode surgir como herança de uma predisposição genética ou pela vivência de traumas em contextos ‘desfavoráveis’ − o momento atual poderia ser um ambiente propício. Estes contextos ‘desfavoráveis’ são contextos que não promoveriam o desenvolvimento de uma autoestima e uma perspectiva de futuro positiva.

Quadros depressivos podem ser agravados durante o isolamento social?
O isolamento social, por si só, pode ser um dos fatores que mais agravam um indivíduo que está num quadro depressivo, pois quando nos isolamos podemos não estar atendendo a uma necessidade básica do ser humano: a necessidade de socialização. Além disso, em isolamento, a chance de não obtermos reforçamentos positivos, ou seja, respostas que provocam um maior bem-estar e prazer, é bem maior, o que traz uma visão de si mesma e do mundo cada vez mais negativa.

Como as pessoas que estão isoladas podem identificar se apresentam algum sintoma depressivo?
Para a identificação de sintomas depressivos nas pessoas que estão isoladas, vale observar a presença de algum desses sintomas: perda de interesse em atividades que anteriormente costumavam ser muito prazerosas pro indivíduo e uma tristeza constante e profunda sem causa aparente; alterações no sono (dorme mais ou menos que o comum) e no apetite (como mais ou menos do que comia); falta de desejo de interagir com outras pessoas; fadiga ou cansaço constante; irritabilidade; baixa autoestima e sentimentos constantes de culpa; e dificuldade para pensar, se concentrar e lembrar de algumas coisas.

Psicóloga Marina Prado Franco (Foto: Divulgação)

Por que as pessoas desenvolvem esta doença? Existe alguma explicação científica?
A ciência, atualmente, explica o surgimento da depressão por um conjunto de fatores, entre eles: a maior propensão genética (famílias com pessoas deprimidas aumentam a chance de eu vir a desenvolver depressão); fatores bioquímicos (redução de alguns neurotransmissores que contribuem para o humor positivo, como a serotonina e a dopamina); fatores ambientais como, por exemplo, a vivência de traumas, violências, negligências dos pais quando criança; e fatores ligados à personalidade do indivíduo, se este tem uma autoestima preservada ou não, visão que tende a ser mais pessimista ou otimista das coisas.

Você acha que podemos tomar alguma atitude para nos prevenirmos da doença?
Atitudes que podemos tomar para prevenir a doença envolve buscarmos sempre tarefas e atividades que nos provoquem prazer, tarefas interessantes para cada um de nós. Termos uma boa rede de apoio (amigos com quem podemos dividir nossas alegrias, tristezas e frustrações), nos criticar menos, com a aceitação de nós mesmos com defeitos e qualidades ‘como todos’, não nos compararmos com os outros e aceitar elogios e buscar sempre observar as situações que vivenciamos como oportunidades de aprendizados, entre outras coisas.

O que você acha das iniciativas de canais de ajuda psicológica neste momento de afastamento social?
Os canais de ajuda psicológica nesse momento de crise e pandemia que vivemos serão essenciais para que os indivíduos consigam se fortalecer e buscar recursos para lidar com suas emoções, como medo, ansiedade e tristeza, que podem surgir com mais frequência no momento atual. Um profissional capacitado nos trará a possibilidade de um lugar em que podemos nos sentir seguros, acolhidos e compreendidos diante de um cenário de tantas incertezas.

Qual a dica que você pode passar para a população neste momento?
Nesse momento a população deve estar atenta, se unir, criar rotinas e atualizá-las constantemente, para que consiga manter a sua saúde física e emocional em um funcionamento saudável, dentro do possível. Devemos estar atentos também às pessoas que estão próximas a nós para que possamos observar possíveis mudanças de comportamento e agir em prol de uma ajuda recíproca.

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