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A joia do progresso industrial do Brasil: a Fábrica de Tecidos Bangu

Foto: Flickr

Não só impulsionou a Zona Oeste carioca, como também a moda e o futebol; hoje é o Bangu Shopping

Na edição nº 228, contamos a história da antiga fábrica de tecidos Nova América, que deu origem ao famoso shopping de Del Castilho, com sua famosa chaminé de tijolinhos laranjas. Nesta edição, vamos lhe contar a história da concorrente da Fábrica Nova América, a que disputou o monopólio da indústria têxtil e da moda e ajudou a formar um bairro da Zona Oeste carioca: a Fábrica de Tecidos Bangu.

Antes de virar um bairro industrial, Bangu foi uma grande fazenda, cujo único acesso era pela Estrada Real de Santa Cruz, que atualmente é a Avenida Santa Cruz. Como era o único logradouro que permitia o acesso para a então fazenda, era necessário antes de mais nada construir outra via para modernizar o lugar: a construção do Ramal ferroviário de Santa Cruz da Estrada de Ferro D. Pedro II, em 1878, que começou a colocar essa região no mapa.

A estrada de ferro e o ramal foram ideias para que o comendador Manuel Antônio da Costa Pereira pudesse fundar a fábrica de tecidos em 6 de fevereiro de 1889, com o nome original de Companhia Progresso Industrial do Brasil. Curiosamente, o comendador era xará do homem que é apontado como fundador de Bangu pela história: Manuel de Barcel os Domingues, porém, com uma diferença de 216 anos entre eles, pois o bairro foi fundado por volta de 1673.

A Companhia Progresso do Brasil foi ideal para moldar o bairro de Bangu. Construída nos mesmos moldes das indústrias inglesas (mesmo modelo no qual a Fábrica Nova América também foi construída), a ideia era que a uma vila de operários fosse criada em torno da fábrica para que os funcionários e suas famílias pudessem morar próximo ao trabalho. Bangu então foi pensada para ser um bairro proletário, símbolo do progresso industrial no Rio de Janeiro.

A primeira mudança que chegou com a fábrica foi logo um ano após sua fundação, a Estação de Bangu, conectada ao Ramal de Santa Cruz. Sempre pioneira, a fábrica também dava uma boa assistência aos seus operários. Além da vila onde moravam, em 1906, foi criada uma caixa beneficente aos funcionários, onde tinham assistência médica e funerária. Em 1908, foi instalado uma rede telefônica no bairro e em 1910, a Rio Light trouxe energia elétrica para Bangu, tendo suas ruas iluminadas.

A Fábrica de Tecidos Bangu também impulsionou dois setores distintos: a moda e o futebol. Na primeira, como sua matéria-prima era o algodão do Seridó, ela produzia uma grande variedade de tecidos, dentre eles, o cetim. Para promover a qualidade dos produtos, foi criado o Desfile Bangu, que destacava seus principais tecidos. E para impulsionar ainda mais, foi criado o Miss Elegante Bangu em 1952.

As moças que desejavam ser miss eram indicadas pelos principais clubes sociais da cidade e  podiam competir desde que seus vestidos fossem feitos com os tecidos produzidos pela fábrica e desenhados pelo seu estilista José Ronaldo. Os desfiles e suas miss ditavam a moda de cada estação.

Já no futebol, Bangu e sua fábrica tiveram um papel essencial: Thomas Donohoe foi um operário escorces da fábrica e o responsável por introduzir o futebol como um esporte recreativo entre seus colegas de trabalho. O futebol já era praticado no Brasil na época, mas apenas a elite de São Paulo e da capital do Rio de Janeiro é que jogavam. Donohoe com seu time formado por proletários brasileiros, ingleses e escoceses é que ajudou a popularizar o esporte nas camadas sociais mais humildes, com a fundação do Bangu Atlético Clube em 1904.

Em 2000 a Fábrica de Tecidos Bangu foi tombada pelo IPHAN, dada sua importância histórica para o Rio de Janeiro. Todavia, com o setor têxtil se mudando para Petrópolis, a fábrica foi oficialmente fechada em 2004. Três anos depois, era fundado o Bangu Shopping, que manteve a estrutura de fábrica inglesa de tijolos laranjas e, claro, manteve sua chaminé, para manter o charme.

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