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A Maria Vai Com as Outras vai a Bica da Rainha.

 

 Localidade no Cosme Velho, além de remeter aos tempos de reino unido a Portugal, também deu origem à famosa expressão popular.

 

Com certeza você já ouviu ou usou a expressão “Maria vai com as outras”, para se referir a uma pessoa bastante influenciável,  que vive seguindo outras pessoas ou se deixa levar pelas ocasiões sem juízo próprio. Como toda expressão da língua portuguesa brasileira, este ditado não veio ao acaso e tem uma boa explicação para sua origem. No caso da ‘Maria vai com as outras’, sua origem remete a um pequeno local no bairro do Cosme Velho: a Bica da Rainha.

Localizada na Rua Cosme Velho, próxima à estação do Trem do Corcovado, a Bica da Rainha é um fontanário – chafariz ou fonte – que foi construída no século XIX, a mando da D. Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, rainha consorte de Portugal e Algarves e também do Reino Unido do Brasil. Por ter ordenado sua construção, a fonte recebeu o nome Bica da Rainha em sua homenagem.

O interesse da rainha consorte em construir o chafariz era de canalizar as águas de uma nascente no próprio bairro do Cosme Velho, no qual eram ricas em ferro. Águas ferrosas possuem propriedades medicinais que tratam algumas enfermidades, como a anemia, na qual D. Carlota tinha. A rainha então ia constantemente à bica, para se tratar em suas águas e costumava levar consigo sua sogra: D. Maria, a Louca.

Embora essa alcunha tenha pegado, D. Maria foi uma das primeiras rainhas reinantes de Portugal, tendo um reinado pacífico, onde concedeu asilo político para vários aristocratas franceses que fugiram da Revolução Francesa. Era dedicada a obras sociais e foi uma grande patrocinadora da ciência e da cultura, tendo promovido missões científicas a Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique e fundou várias instituições, entre elas a Academia Real das Ciências de Lisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte. 

Porém, reinou o Brasil com mãos de ferro: foi D. Maria que promulgou o alvará que impôs pesadas restrições à atividade industrial no Brasil, como a proibição da fabricação de tecidos e outros produtos, por exemplo. Também durante seu reinado foi que aconteceu o processo, a condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira.

Todavia, a rainha era dada a longos episódios de melancolia e era uma religiosa fervorosa. Acreditava piamente que a alma de seu pai – Dom José I – estava sofrendo no inferno por permitir que o Marquês de Pombal perseguisse jesuítas em seu reinado, estigma que atribuiu ao falecimento precoce se seu marido Pedro III e de seu filho mais velho, José, morto com três semanas de vida. Com sua mente cada vez mais instável, acabou tendo que ceder o trono a seu segundo filho, Dom João VI.

Quanto era levada pela nora Dona Carlota para a Bica da Rainha, D. Maria era amparada por várias damas de companhia no caminho. O povo, ao ver a Rainha Mãe sendo praticamente arrastada pelas damas até a bica, comentava: “Lá vai a Maria com as outras”.

Eis então a famosa expressão.

A Bica da Rainha então foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – o IPHAN – como patrimônio histórico no ano de 1938. Em 2014, em meio a várias restaurações e revitalizações que a cidade passava, a Bica da Rainha teve seu projeto paisagístico original recuperado, tendo seu jardim reconstruído com floras típicas do Brasil.

Agora que conhece quem é a ‘Maria Vai Com as Outras’, dê uma passada em frente a Bica da Rainha, quando estiver pelo Cosme Velho!

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