A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito que completa este ano 110 anos do seu início, é um capítulo quase sempre ofuscado da história brasileira.
Mas felizmente obras como “O Brasil na Primeira Guerra Mundial: A Longa Travessia”, nos ajudam a revisitar e reavaliar a participação brasileira no evento conhecido na época como ’’A Grande Guerra’’.
O livro do escritor, professor, coronel do Exército Brasileiro e Doutor em História (UFF) Carlos Daroz, tem o mérito de mesclar o rigor acadêmico com uma narrativa envolvente, trazendo à tona as nuances e detalhes da atuação nacional num dos maiores conflitos do século passado.
A pesquisa incluiu fontes primárias e vasta documentação, disponível em arquivos públicos civis e militares, museus, jornais e revistas da época, além da bibliografia de autores brasileiros, americanos e ingleses.
No livro, Daroz contextualiza a explosão do conflito que teve seu estopim no atentado realizado por extremistas políticos, que causou a morte a tiros do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro e sua esposa a Duquesa Sofia, no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo na Sérvia.
Explica a posição inicial de neutralidade do Brasil visto que tinha então, como principais parceiros comerciais, a Inglaterra e a Alemanha, países que estavam em campos opostos na contenda. Até que o torpedeamento de navios mercantes por submarinos alemães fez o país entrar na guerra em 1917.
O livro aborda a colaboração significativa do Brasil na Primeira Guerra Mundial, com o envio da Missão Médica Militar Brasileira (MMMB) para a França em agosto de 1918, com 131 homens, entre médicos militares e civis, estudantes de Medicina e auxiliares. Na capital francesa a MMMB instalou um hospital militar (que depois foi doado à Faculdade de Medicina de Paris) destinado a tratar de soldados e também civis feridos de guerra, mas acabou atendendo mais às vítimas da pandemia da Gripe Espanhola que assolou o mundo naquele ano.
O livro trata ainda da atuação dos aviadores militares brasileiros que foram incorporados à Real Força Aérea Britânica e à Força Aérea Naval dos EUA. Também fala dos 24 oficiais brasileiros da chamada ‘’Missão Aché’’, alguns dos quais chegaram a entrar em combate junto com o exército francês.
E narra o desempenho da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), esquadra de 8 navios da Marinha brasileira que atuou no patrulhamento do Oceano Atlântico na costa da África e que foi composta por cerca de 1.500 homens, que tiveram como maior inimigo a famigerada Gripe Espanhola, que dizimou 176 tripulantes.
“O Brasil na Primeira Guerra Mundial: A Longa Travessia”, oferece uma análise detalhada e criteriosa, enriquecendo o entendimento sobre um período crucial, porém frequentemente subestimado da nossa História. A obra não apenas preenche uma lacuna historiográfica importante, mas também desafia o leitor a repensar o papel do país no palco global, durante um dos momentos mais turbulentos e dramáticos do século XX.