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Ariadne, seus encontros e seu retorno do Oitavo círculo do Inferno

Nunca lhes enganei: sempre fui uma louca aos olhos dos homens, posto que movida pelos deuses.  A voz tonitruante do caos me foi simpática, certa feita; então decidi me aventurar para além dos portais do mundo conhecido. Rumo a Urano.

Sou folclórica, mitológica em essência, trágica nas tentativas, heroica em atitudes…  Nunca lhes enganei, portanto, prezados espectadores, surdos de minhas dores… estejam onde estiverem, enquanto nutro meus ais por entre esses fossos; pois devo lhes dizer: fui até vós! Exausta, retorno… Ferida, mas com algumas certezas repletas de frêmito e saber.

Grasnados ecoam como ganidos neste zumbir de almas.  O sono me abate, vossas nauseantes repetições me atingem, como açoites.

Sou este mosaico.  Não finjam, pois, nessas dissimulações cotidianas que repetem incessantemente, qualquer autenticidade; já me acostumaram às suas mentiras agradáveis, ‘adequadas’… e aos seus sorrisos – espasmos suscetíveis de afeto –  apenas mais uma apologia ao fracasso da verdade diante dos ditames morais entranhados aos vossos lúgubres instintos.

Alterno-me entre a verdade e a arte; sozinha, ensurdece-me o gargarejar de seus rosnados, atrozes.  Silencio o trovão que não ousam sequer imaginar, vibratório; realizo na potência da minha própria vida os choros e gargalhadas das crianças, cujos semblantes apenas se contentam em saber que existem.

Sois mortos, em vida. O pavor de se tornarem indivíduos vos condenará…na abjeção que sinto diante de seus olhares baços… lá, encontro a primeira porta para o caminho de volta.

Nunca lhes enganei.  Vos alertei, creio, em demasia, diante de vosso impulso involutivo.  Lembrem-se de mim como uma arauta dos deuses que desconhecem; como uma voz obnubilada pelas nuvens de vossos sonhos e desejos não satisfeitos por pura impotência, vós que julgais ser a moral que obedecem um sol, um destino… algumelemento mui poderoso emanado de vossa  natureza de ‘ser escolhido’, à qual deveis soberba obediência e cega veneração.

Abandono-vos, finalmente.  Não são capazes de se perdoar. Sois humanos aos quais não rendo nenhuma compaixão.  Caso fossem mortais, tal fim lhes seria de grande valia. Pela eternidade, portanto, velem e amamentem o mal que conscientemente disseminaram sobre Gaia.

O oitavo círculo do Inferno de Dante, “O MALLEBOGE”, é dividido em dez fossos nos quais, punem-se diversos pecadores: os simoníacos, os ladrões, os hipócritas, os corruptos, os rufiões, os sedutores, os lisonjeiros, os falsários e maus conselheiros, e aqueles que disseminaram a discórdia em vida.

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