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Ars Gratia Artis: Catálogo De Sonhos: Parte I

Sonhar nunca falhou em me fascinar. Ser capaz de acessar um novo mundo a cada fim de dia é um poder humano a que poucos dão o devido valor. Essa habilidade fenomenal pode representar seu estado mental, criar excelentes histórias e até mesmo prever o futuro. Minha admiração pelos filmes mentais me fez anotar e catalogar a maioria das vezes que sonhei. No total, tive 583 sonhos que pude catalogar. Irei compartilhar com vocês, caros leitores, apenas os poucos que suas mentes serão capazes de absorver.

O primeiro sonho que irei aqui relatar foi bastante recorrente em minha infância. Sonhava que o mundo inteiro estava de ponta-cabeça. Acabei caindo no teto, mas todos os objetos que estavam no chão ficaram grudados ao solo. Ignorei a situação, porém, já que acreditei estar atrasado para a escola. Ao sair de casa, o céu estava abaixo de mim. Para eu me locomover pela cidade e alcançar minha escola, precisei pular nos galhos das árvores que estavam penduradas ao solo acima de minha cabeça. Depois de me locomover de galho em galho com dificuldade, encontrei um antigo professor meu, que disse que a minha gravidade estava incomodando os outros ao meu redor. Quando terminou de dizer isso, ele me derrubou dos galhos onde até então me segurava, fazendo com que eu caísse em direção ao Sol. Minha velocidade de queda aumentava constantemente. Tão vertiginosa foi a queda que, ao chegar na estrela que ilumina nosso mundo, eu a parti ao meio.

O sonho que acabei de contar está entre os mais simples que tive, entretanto é um que tem um espaço especial em meio de minhas memórias. Eu estava em uma fase de minha vida que me fazia sentir desconectado de tudo e todos. Sei da crescente dificuldade que os jovens atualmente tem em lidar com seus períodos de crescimento imparáveis. Em minha época, problemas que estavam mais voltados ao lado espiritual e psicológico do povo normalmente eram ignorados e tratados como inconveniências (incluindo casos graves das chamadas doenças mentais). Prefiro interpretar esse meu sonho como uma forma de alerta feita pelo meu próprio corpo, para ser mais atento ao mundo e sua formatação voltada para contrariar aqueles com visões não semelhantes às dos demais. Ao menos, fico entre essa interpretação e a de que me vejo como alguém oposto aos denominados “pés-no-chão”. Caso esse fosse o verdadeiro significado, não ficaria surpreso.

Texto do Livro ‘Os Devaneios de um Homem Louco’, de Bernardo Marinho Sampaio. Ilustração de João Luiz Leal Maia Calonio

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