Jornal DR1
Homem livre, o oceano é um espelho fulgenteQue tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,Como em puro cristal, contemplas, retratado,Teu íntimo sentir, teu coração ardente.Gostas de te banhar na tua própria imagem.Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidosNem sentes, ao escutar os gritos doloridos,As queixas que ele diz em mística linguagem.Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;Os segredos guardais, avaros, receosos!E há séculos mil, séc’ulos inumeráveis,Que os dois vos combateis n’uma luta selvagem,De tal modo gostais n’uma luta selvagem,Eternos lutador’s ó irmãos implacáveis!
Charles Baudelaire