Lena Mendes
Vinicius Zepeda
Existe um enorme castelo, ao Sul dos ermos vales perdidos, onde almas atormentadas, presas por pesados grilhões de ferro em seus pés, arrastam-se sobre um lastro fétido de sangue, morte e uma névoa de desespero. Contaram durante séculos que, de fora daquela imensa fortaleza, ouviam-se gritos de pavor e dor tenebrosos, e quem passava ali entrava em pânico e desespero. Alguns viajantes, sem fazer a menor ideia do que se encontrava perdido dentro do misterioso e aterrorizante reino, ao escolher caminhar acerca de todo aquele enigma, flertavam inconscientes com a morte.
Reza a lenda que ali acontecia toda sorte de perversão, luxúria, torturas e sexo para saciar caprichos. E foi quando a névoa cobriu aquele quarto tornando impossível enxergar um palmo à frente. Um forte cheiro de enxofre impregnou-se ali. Ele então apareceu e me falou:
– De que dor está falando? Daquela que infringiu as pessoas? Não estou entendendo. Porque vieste parar aqui? Nada mais que você não tenha merecido, disse.
Soerguendo-me lentamente, reuni forças para pedir clemência a um Deus que nunca acreditei nem imaginava acreditar, numa última súplica:
– Misericórdia, misericórdia, Senhor. Eu não fiz nada, clamei.
Ele respondeu:
– E porque parou aqui? Porque estaria perdendo meu tempo em me divertir com a sua dor, se sua dor nada mais é do que reflexo do que você fazia?
– É filho de um Deus que pregava o amor? Não é. É do lado obscuro dos seus sentimentos que me alimento. Nada mais fez na vida do que servir a mim. Onde está agora seu Messias que não te livrou dos pecados? Está pagando seus delitos. E é energia para minha alma. E por que não me divertir com sua dor? Você sempre quis o mal de quem te amava. Aqui será sua morada eterna, tendo a alma devorada pelo mal que causou aos outros. Nada vou te dar que não seja parte de tudo aquilo que plantou.
E em súplica, clamei aos céus olhando-o no olho:
– Eu estava perdido, culpa de uma doença que roubou minha humanidade. Daí eu roubei, matei, desrespeitei meu pai e mãe, e todos os mandamentos.
De repente, olhei para ele que me disse:
– E depois disso tudo, onde mais você estaria se não aqui?
Assim como surgiu do nada, ao nada ele retornou. Abri os olhos e enxerguei: o castelo estava dentro de mim.