Jornal DR1

Ars Gratia Artis: Onde a luz não toca

Túnel. Túnel que expande; túnel que sente, mesmo sem se sentir. Túnel que encolhe a farta colheita nascente da anciã verdade. A boca do túnel não enxerga o bem ou o mal; apenas consome. O caminho formado de dentro de suas bifurcações ilusórias observa, indiscriminadamente, aqueles que se perdem diante da escuridão vagante das rachaduras labirínticas. O caminho avança, indiscriminadamente. Indiscriminadamente, o túnel engole os submersos em azar. Indiscriminadamente, o caminho observa. Se repete o temor das antigas palavras que criam a sua desesperadora imagem.

Túnel que afunda; seja para direções que existem ou não. Túnel que dirige as direções de seu real destino. Túnel que tropeça suas vítimas inconsequentes; túnel que os leva para o lugar que está mais próximo do que poderiam imaginar: o lugar onde a luz não toca. A cada segundo que corre e a cada palavra que foge de seus olhos, a luz deseja desvanecer ainda mais. Túnel que afronta a ideia do horror por manifestar sensações e conceitos únicos; túnel que aproxima do fim da última jornada, existindo ou não. Túnel que, em repetição viciosa, desespera imagens em temor.

Túnel que sonha, sem sentir. Túnel que afoga; túnel que discute, sem palavras. Túnel que vicia o antigo horror; túnel que bifurca a verdade. Túnel que repete as palavras, esperando que a luz não o toque. Túnel que existe ou não. Túnel que busca o fim. Silhuetas sem cor ascendem na sua vasta escuridão, sozinhas. O corpo do túnel se silencia enquanto as almas chovem suas desesperanças, repetindo as antigas palavras causadoras de seus temores. Túnel. Túnel. TÚNEL. TÚNEL. TÚNEL! Chegamos. Chegamos no lugar onde a luz não toca. 

Não há nada aqui; e o nada se desdobra em infinitudes sem valor. Salas se abrem vestidas de azulejos ocos. As consciências de antigos espíritos, ainda confusas, buscam conforto no que não entendem. Prisioneiros de suas vontades presenciam seus arredores em união. Palácios de barro se apresentam em feições de insatisfação e desgosto. Labaredas sem calor abraçam o que resta; restos de individualidades remontados sem convicção; apenas tempo perdido e escorrido nas bordas das eras.

Eis o real fundo do túnel solitário; uma pilha de desinteresses insignificantes no grande esquema de tudo o que há. Túnel que repete em temor; túnel que desmonta quem prende. Presos no fundo do túnel, todos rezam para um dia sonhar; que um dia um sonho se repita em harmonia. Que, um dia, as antigas palavras desfaçam das amarras que as prendem à desordem que causam; à desordem do túnel. 

Álvaro Roux Rosa ( Bernardo Marinho Sampaio )

Confira também

Nosso canal

Error 403 The request cannot be completed because you have exceeded your quota. : quotaExceeded