Dirigida por Delson Antunes, a CIA Janela Azul de Teatro nos trouxe, na Casa da Leitura em Laranjeiras, neste último 26 de outubro, a riqueza múltipla encontrada na obra de Gilberto Gil.
O trabalho tem por base o ‘Palavra como Ação’, curso dado por Delson tanto presencial quanto virtualmente, que permite o desenvolvimento dos artistas da cena, bem como o descobrir-se na interpretação para interessados de quaisquer profissões.
Facetas diversas da obra de Gil são abordadas, desde composições dos Festivais (Domingo no Parque, na edição de 1967), como brados poético-políticos, aliás atualíssimos (‘Pessoa Nefasta’).
Estiveram presentes o romantismo, como a leve (embora não superficial) reflexão filosófica, o ‘sim’ em relação à vida e a afirmação da ancestralidade, da fé, da arte. Cabe à poesia a confissão:
‘Não tenho medo da morte / Mas de morrer sim / A morte é depois de mim / Mas quem vai morrer sou eu / O derradeiro ato meu / E eu terei de estar presente’.
Bravíssima prova, pelo evidente exercício de técnicas e sensibilidades no lidar com literaturas das artes de nossos grandes mestres para a performática; para além e ao mesmo tempo essencialmente inspirados na letra, no som, na palavra. Palavra tornada Ato.
Acompanho o trabalho dessa jovem e insigne trupe e afirmo que a Companhia apresenta evolução tanto em termos individuais, refinadas ainda mais as atuações, quanto coletivamente.
Movem-se no palco como um SER somente, cujas partes se agregam, pela harmonia nas alternâncias dos desenhos que seus movimentos fazem, nas deixas, no suporte invisível que a confiança que cada um tem em si e no outro, que cada um tem em seu Diretor, lhes dá. Essa ‘fé’ não falha.
Digno de nota é o trabalho constante e de auspicioso encaixe de Beatriz Parisi Pinheiro, na criação e execução de voz e violão, por vezes como intérprete (no que mostrou competência também Thayanne Nascimento) e por vezes como compositora.
Quando o poeta quis dizer canções, as cenas poderão ter dito outro inatingível que não o musical, no gesto, no movimento, na canção sobre a canção, metáforas sem metas, dentro e fora de todo o sentir.
Tempo Rei, absoluto senhor de todo querer. Ensinai aquilo que ainda – e talvez sempre, ou mesmo quem sabe jamais – saberemos. A fé falha, sim. Mas… ‘a fé tá na mulher /… / A fé tá na maré /… / Na luz, na escuridão /… / tá viva e sã’ e, embora esteja ainda pra morrer… é aí, quando a fé tá em nós, em tudo, em nada… mesmo que você não tenha fé, ela costuma acompanhar. Foi o que a CIA Janela Azul nos disse: a fé… a fé não costuma faiá… E estende-se, Mãe Zelosa… Infinita!