Mais de um terço dos trabalhadores brasileiros recebe até um salário mínimo, aponta Censo 2022Mais de um terço da força de trabalho brasileira sobrevive com rendimentos de até um salário mínimo. Segundo dados preliminares do Censo Demográfico de 2022, divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 35,3% dos trabalhadores no país ganham até R$ 1.212 por mês, valor do salário mínimo naquele ano.O levantamento mostra que, embora esse percentual tenha caído ligeiramente em relação a 2010 — quando era de 36,4% —, o número continua alto e reforça a precarização do mercado de trabalho e a persistente desigualdade social.Renda concentrada em poucosEnquanto a maioria recebe pouco, uma parcela pequena concentra os maiores rendimentos. De acordo com o Censo, apenas 7,6% das pessoas ocupadas têm renda superior a cinco salários mínimos, o equivalente a R$ 6.060 mensais em 2022.Em 2010, essa faixa representava 9,6% dos trabalhadores, o que indica uma redução da concentração nos rendimentos mais altos — ainda que essa mudança não signifique necessariamente uma melhora na distribuição de renda, já que boa parte dos brasileiros continua ganhando menos.Economistas apontam que essa redução pode estar associada a fatores como a crise econômica dos últimos anos, o aumento da informalidade e o impacto da pandemia da Covid-19 sobre os empregos de maior qualificação.Desigualdades persistem entre gêneros, raças e regiõesOs números do Censo 2022 também mostram que as diferenças salariais continuam marcadas por gênero, cor e localização geográfica. Os maiores rendimentos se concentram entre homens, pessoas brancas e amarelas e moradores das regiões Sul e Sudeste.Já as mulheres, pretos, pardos e moradores do Norte e Nordeste aparecem nas faixas mais baixas de remuneração. A discrepância reforça padrões históricos de desigualdade no mercado de trabalho brasileiro, onde fatores como escolaridade, discriminação e acesso desigual a oportunidades ainda influenciam fortemente a renda.De acordo com especialistas, políticas públicas voltadas à educação, à valorização do trabalho e à igualdade de oportunidades são fundamentais para reverter esse cenário e garantir uma distribuição mais justa dos rendimentos.O que o Censo consideraO levantamento do IBGE sobre rendimento do trabalho foi realizado entre 25 e 31 de julho de 2022 e abrangeu pessoas de 14 anos ou mais que trabalharam ao menos uma hora na semana de referência ou estavam temporariamente afastadas de uma atividade remunerada.O salário mínimo considerado foi de R$ 1.212, valor vigente naquele ano. A pesquisa foca exclusivamente no rendimento proveniente do trabalho, sem incluir outras fontes de renda, como aposentadorias, benefícios sociais ou rendimentos de investimentos.Um retrato da desigualdade brasileiraOs dados do Censo 2022 confirmam que o Brasil segue sendo um país de grandes contrastes econômicos. Embora tenha havido uma pequena redução nas extremidades da distribuição de renda, a maioria dos trabalhadores ainda vive com ganhos muito próximos do mínimo.A fotografia traçada pelo IBGE é clara: o desafio de reduzir a desigualdade e valorizar o trabalho segue sendo central para o desenvolvimento social e econômico do país.