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Decola Cria chega ao Rio de Janeiro com o objetivo de mobilizar parceiros públicos e privados para reduzir o número de jovens que não estudam e não trabalham

Articulada pelo Cedaps, em parceria com Fundação Roberto Marinho, Firjan, JUVRio, Instituto Coca-cola, UNICEF e apoio de mais 30 instituições, a iniciativa do Instituto Aspen será lançada no dia 16 de setembro no Museu do Amanhã.

Com o objetivo de mapear e enfrentar as dificuldades que levam adolescentes e jovens a ficar sem estudo e sem trabalho, a iniciativa Decola Cria é lançada no dia 16/setembro, no Museu do Amanhã, centro do Rio de Janeiro. Articulada pelo Cedaps (Centro de Promoção da Saúde), o Decola Cria é a versão carioca do Global Opportunity Youth Network (GOYN) desenvolvido pelo Instituto Aspen, e que conta na cidade do Rio de Janeiro com a parceria  do UNICEF e de um comitê gestor, formado pela Fundação Roberto Marinho, Firjan, JUVRio e Instituto Coca-Cola, além de um grupo colaborativo com outras 30 instituições cariocas, incluindo representantes jovens, organizações de base comunitária, organizações sociais, empresas e organizações públicas que atuam diretamente com a inclusão socioprodutiva da juventude.

Segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2023, divulgada em março pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), o Brasil tem 9,6 milhões de jovens, com idades entre 15 e 29 anos, que estão sem estudar ou trabalhar, atingindo 19,8% desse público. Na cidade do Rio de Janeiro, com mais de 1,5 milhão de habitantes nessa faixa etária, 2.125 jovens, 32% não estudavam e não trabalhavam, segundo uma pesquisa recente da Secretaria da Juventude (JUVRio).

Para compreender melhor esse desafio e superar essa falta de oportunidades, o Rio é a 16ª cidade, entre nove países, a receber a iniciativa GOYN, que visa a promover mudanças sistêmicas por meio do impacto coletivo, capazes de gerar oportunidades de trabalho e emprego, em um período de 10 anos, para 10% dos jovens com idade entre 15 e 29 anos, em situação de vulnerabilidade. Os princípios são: processo colaborativo no território, mudar a mentalidade das pessoas, gerar informações e conhecimento por meio de um mapa de ecossistema, e o jovem sempre o centro, entre outros.

Para Jamie Mc Auliffe, diretor da GOYN e do Instituto Aspen, é muito importante essa parceria com o Cedaps e a implementação da iniciativa no Rio de Janeiro. “Com seu cenário socioeconômico incrivelmente vibrante, mas complexo, o Rio de Janeiro representa um ponto focal crítico para nosso trabalho. Os jovens da cidade enfrentam desafios significativos, desde altas taxas de desemprego, até barreiras no acesso à educação de qualidade e oportunidades econômicas. Ao mesmo tempo, acreditamos que o Rio é uma cidade de imenso potencial, com uma população jovem dinâmica que, quando recebe oportunidades de parceria e liderança, pode realizar seu potencial e transformar suas comunidades”,explica.

O objetivo para o primeiro ano de atuação do Decola Cria será gerar evidências e informações sobre a juventude carioca que não estuda e não trabalha, já que todas as decisões da GOYN são baseadas em evidência.

“Os jovens são os protagonistas do Decola Cria, pois são eles que vivenciam a situação e têm o grande potencial para mudar. Ter o jovem no centro das discussões e decisões que impactam suas vidas é um dos objetivos do grupo Colaborativo, que também é composto por um Conselho Jovem com 15 adolescentes e jovens participantes. Hoje, já sabemos que o problema existe, mas precisamos ir mais a fundo para identificar suas causas, o que é específico do Rio de Janeiro, e elaborar soluções coletivas. Em conjunto com o Colaborativo e os jovens, iremos propor soluções e iniciativas para gerar oportunidades para que esses milhares de cariocas, que vivem em situação de vulnerabilidade, possam realmente “decolar”. Esse é o nosso grande objetivo junto a GOYN e a todos os parceiros”, explica Melissa Abla, coordenadora da Frente de Juventude do Cedaps.

Entre as primeiras ações da iniciativa, está sendo realizada uma pesquisa sobre o ecossistema de inclusão juvenil na cidade pelo Instituto Veredas, com a participação dos jovens do Conselho, com previsão de lançamento para 2025. Além disso, em parceria com o Conselho Jovem, UNICEF e a Fundação Roberto Marinho, será lançado ainda em setembro, por meio da co.liga (www.coliga.digital),  um curso gratuito sobre democracia participativa e política para jovens, com o objetivo de tratar questões sobre política e engajamento juvenil. Como parte desse processo, os jovens também elaboraram um questionário para coletar as demandas da juventude na cidade e as apresentar aos candidatos ao legislativo no Rio.

Segundo a Superintendente de Projetos da Fundação Roberto Marinho, Deca Farroco, fazer parte do comitê gestor do Decola Cria reforça o compromisso que a instituição, historicamente, sempre teve com as juventudes. “Nós realizamos várias iniciativas voltadas para os jovens, e, em especial, criamos oportunidades de inclusão produtiva em todo o país, porque valorizamos o potencial criativo deles e a sua capacidade de mobilizar e transformar a sociedade”, destaca Deca Farroco.  

De acordo com Eliane Damasceno, Gerente de Responsabilidade Social da Firjan SESI SENAI, fazer parte de uma iniciativa como o Decola Cria é realmente acreditar que esses problemas podem ser solucionados. “Acreditamos que estar junto com a GOYN é uma oportunidade para coletivamente entender os desafios sistêmicos da empregabilidade jovem e atuar de forma conjunta em nossas organizações e nas empresas para superá-las. A Firjan SENAI SESI trabalha para uma indústria forte, para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro e da sociedade e ela só se dá a partir de uma juventude potente, qualificada e produtiva. Escutar e trabalhar com a juventude é essencial para atingir todo esse potencial”, explica Eliane.

Cenário do desemprego no Brasil

No mundo do trabalho, jovens brasileiros enfrentam desafios significativos em relação ao resto da população: no primeiro trimestre de 2024, a taxa de desemprego geral foi de 7,9%, enquanto a de jovens foi 16,8%. A questão se agrava ao considerarmos marcadores sociais que retratam a desigualdade do país, principalmente quando se refere ao racismo estrutural: em 2023, a taxa de desemprego para jovens mulheres negras entre 18 e 24 anos era três vezes maior que o percentual de homens brancos (18,3%, e 5,1%). Ainda pela PNAD, pessoas negras têm uma média de anos de estudo mais de um ano menor (11,5 anos) do que pessoas brancas (12,8 anos).

“A superação das desigualdades socioeconômicas passa, necessariamente, pelas oportunidades ofertadas às juventudes. A grande problemática é que estamos diante de um quadro histórico e multifatorial, no qual os jovens são constantemente negligenciados e silenciados em suas necessidades. O Decola vem para que os caminhos de transformação social sejam articulados a partir das nossas juventudes e, nós, como poder público, estamos aqui para impulsionar esse processo”, afirma Gabriella Sampaio, Secretária de Juventude no município do Rio de Janeiro.

“Como alcançar uma cidade que protege de verdade os adolescentes e jovens mais vulneráveis, especialmente aqueles que sofrem diariamente os impactos da violência armada? A cidade do Rio precisa, entre outras medidas, investir em oportunidades de desenvolvimento e na inclusão sócioprodutiva dessas meninas e meninos, especialmente os negros”, destaca Flávia Antunes, chefe do escritório do UNICEF no Rio de Janeiro. “Garantir o direito de participação dos próprios adolescentes e jovens na discussão e criação de políticas públicas é um dos caminhos para termos sucesso nesse investimento”, completa. O Decola Cria vem amplificar os esforços realizados pelo UNICEF em parceria com o Cedaps na #AgendaCidadeUNICEF no território da Pavuna, que visa criar oportunidades e prevenir violências contra crianças e adolescentes em territórios impactados pela violência armada.

Para Katllen Drummond, do Conselho Jovem do Decola Cria, a vinda da GOYN para o Rio de Janeiro vai melhorar a situação dos jovens que não têm oportunidades de estudo e trabalho na cidade. “Minha decisão de participar da GOYN foi muito importante para o meu crescimento como pessoa em um todo, as ações de fazermos os diários de campo me fizeram enxergar o meu dia a dia de uma forma diferente, mais detalhada e com um olhar mais observador. Certamente, o Decola Cria já tem levantado entre os jovens, muitos questionamentos sobre um futuro melhor, e sobre o debate de melhores políticas públicas para os territórios do Rio de Janeiro. Fico feliz que estamos avançando com a nossa juventude!”, conta a jovem, de 18 anos.

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