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Deleite Linguístico: 10 de junho, Dia da Língua Portuguesa

Foto: Reprodução

O texto de hoje é uma homenagem ao Dia da Língua Portuguesa cuja data escolhida para a celebração é o suposto dia do aniversário do poeta português Luiz Vaz de Camões. Nossa única certeza é explicitada nos versos de Gilberto Mendonça Teles, escritor e ensaísta que, em 2011, desistiu de concorrer à Cadeira número 15 da Academia Brasileira de Letras. Para quem desconhece, essa cadeira tem como patrono o poeta Gonçalves Dias e seu primeiro ocupante Olavo Bilac. 

Na concepção de Teles, a língua “é como um elástico/que espicharam pelo mundo./No início era tensa./De tão clássica./Com o tempo, se foi amaciando/foi-se tornando romântica,/incorporando os termos nativos/e amolecendo nas folhas de bananeira/as expressões mais sisudas”. Concordo com Gilberto, visto que nosso idioma é um misto de tradições e de inovações bem ditas por meio destes versos do soneto de Olavo Bilac, intitulado Língua Portuguesa: “Última flor do Lácio, inculta e bela/És, a um tempo, esplendor e sepultura”. Olavo, ao dizer que nossa língua portuguesa é inculta e bela, nos ensina que ela foi a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar, aquele usado por soldados da região do Lácio. Já o verso em que encontramos um paradoxo (figura de linguagem em que é nítida a contradição dos elementos citados, criando um efeito de surpresa e de reflexão, pela sua incompatibilidade) demarca o “esplendor” dessa língua neolatina cuja continuidade do latim se dará em nova roupagem, e em que a “sepultura” sinaliza o desuso do latim. 

Visionário fora Bilac, já que atualmente os falantes usam do Português e deste abusam. Duvidam? Então, respondam-me: Quais de vocês já fizeram uso dos verbos “Sextou”, “Sabadou” ou “Sessentou”? Para explicar esse fenômeno, transcrevo as palavras de meu amado professor Evanildo Bechara (2009), em sua Moderna Gramática Portuguesa, em que se lê que “As múltiplas atividades dos falantes no comércio da vida em sociedade favorecem a criação de palavras para atender às necessidades culturais, científicas e da comunicação de um modo geral. As palavras que vêm ao encontro dessas necessidades renovadoras chamam-se neologismos, que têm, do lado oposto ao movimento criador, os arcaísmos, representados por palavras e expressões que, por diversas razões, saem do uso e acabam esquecidas por uma comunidade linguística.” Pois bem, meus caros, os neologismos em negrito são chamados verbos denominais do português contemporâneo, inventados como maneiras de suprir nossas necessidades comunicativas, gerando exemplos do pragmatismo de nossa rica e bela língua portuguesa!  

Por falar em arcaísmos, levante a mão quem ainda emprega os termos “pudibunda” e “ósculo”! Cuidado, pois poderá ter problemas de má interpretação, visto que seu interlocutor poderá desconhecer que respectivamente significam “recatada” e “beijo como demonstração de amizade” e pensar bobagem. 

Para finalizar, faço coro com Caetano Veloso, ao declamar “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões.” Afinal “O que quer, o que pode essa língua?”