Eu estava em casa, quando recebi, por WhatsApp, essa pergunta, feita por uma amiga que se diverte com meus comentários linguísticos. Para quem não sabe, tenho o hábito de fotografar textos que circulam em noticiários veiculados pelos telejornais e tecer minhas considerações acerca das inadequações encontradas. Já de antemão, declaro não ter preconceito linguístico (seria um absurdo e enorme incoerência, sendo eu uma professora de Língua Portuguesa; fã incondicional de Evanildo Bechara, meu amado Mestre; de Ricardo Stavola Cavaliere, meu orientador do Doutorado e de Leonardo Kaltner, meu orientador de Pós-doutorado), mas avalio como um desserviço a mídia publicar textos escritos com desvios gramaticais, uma vez que o público crê que o que está escrito neles teoricamente está certo. Ledo engano…
Para responder a essa cara amiga e a todos que leem (é assim mesmo que se escreve, sem acento. Já lhes explicitarei o motivo dessa ausência.) esta coluna de que muito me orgulho de tê-la, deixo aqui a devida explicação, pautando-me no novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, já mencionado em texto anterior. Reportar-me-ei à Base IX desse Acordo, que trata Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas, prescrevendo que não mais são acentuados os ditongos representados por ei e oi da sílaba tônica das paroxítonas, visto que há oscilação de timbre (aberto ou fechado) das vogais e e o, como observado em plateia (timbre aberto) / baleia (timbre fechado); dezoito (timbre fechado) e paranoico (timbre aberto). Sendo assim, o acento de ideia, assembleia, heroico e onomatopeico foram abolidos, por exemplo. Pautando-me nessa mesma Base IX, trago a justificativa para a retirada do acento circunflexo no verbo leem, já que é dito não há emprego desse acento nas formas de verbos que estejam na terceira pessoa do plural, em que o primeiro e é tônico e está em sílaba paroxítona, formando um hiato com o segundo e em terminação -em. Nessa prescrição, enquadram-se deem, veem, preveem.
Diante de tudo isso, acredito que, mais uma vez, eu possa ter esclarecido que a língua é viva e que exige de nós, seus usuários, constante estudo para que não sejamos surpreendidos com mudanças que fazem parte dela. Afinal, você certamente não é a mesma pessoa que escrevia em 1911, em 1943 e em 1971, anos em que, no Brasil, houve Formulários Ortográficos (se é que já era nascido (a)). Portanto, se não quer revelar sua idade, nada de usar acento em palavras como côco, dôce, idéia, dêem. E fiquem tranquilos que, mesmo sem acento, a plateia se sentará em seu assento confortavelmente, livre de qualquer desvio gramatical.