Por Guilherme Abrahão
Um dos maiores nomes do surfe mundial. A primeira mulher empreendedora da modalidade a gerir uma escola de surfe. Essa é a carioca da gema, Andrea Lopes. Nascida e criada na cidade maravilhosa, aos 47 anos, Andréa tem muita história para contar. E muito título também na sua longa carreira de 32 anos na modalidade.
Em 1988 conquistou seu primeiro título com apenas 14 anos. Em 1991, já competia na Austrália de forma profissional. Em seguida passou por problemas de anorexia nervosa, chegando a pesar 38kg, e superou com muita força de vontade, como em tudo que pautou sua vida no surfe. Voltou às competições em 1999 e se tornou a primeira mulher brasileira a vencer uma etapa do WCT e a primeira wildcard do mundo – sendo até hoje a única – a vencer na primeira divisão mundial. Chegou ao tetracampeonato em 2006 encerrando sua carreira profissional em 2010, com o vice-campeonato sênior (o único ainda não conquistado por ela até hoje)
Andrea é um orgulho para o esporte. Criou projetos e além de sua escola, ministra a Palestra M.A.R. (Meta, Atitude e Resultado) para auxiliar pessoas com conhecimento técnico, oferecer uma abordagem interpessoal e motivacional ao público.
Jornal DR1: Como é ser considerada um dos maiores nomes do surfe feminino mundial?
Andrea Lopes: É uma honra, afinal de contas mais da metade da minha vida é dedicada ao surfe e competindo. São 27 anos de competição, 32 de surfe e tenho 47. A competição está no sangue e sendo a pioneira no circuito mundial e em títulos no Brasil, acho que ser referência acaba sendo um lugar de muita batalha e uma grande honra. De certa forma hoje posso ajudar o surfe feminino e em geral, com várias ações e tomando lugar de pioneira em vários movimentos que o surfe tem feito. A palavra só pode ser essa: uma honra.
JDR1: Qual a grande saudade dos tempos de competição?
AL: Saudade que tenho é de viajar. Viajava muito mais. Passava oito a nove meses fora do país. Três ou quatro no país só e de forma picotada. Saudades dos amigos que fiz ao redor do mundo. Na Austrália, Japão, Indonésia. A questão de perder ou ganhar é algo que ficou para trás de uma forma bacana na minha história de vida. Então a maior saúde é viajar e os amigos.
JDR1: Que aprendizado você traz da sua vitoriosa carreira?
AL: Trago é que ninguém é melhor ou pior do que ninguém .Cada um tem seu momento de vitórias e derrotas. Isso faz parte da vida da competição. É saber lidar com o lugar mais alto ou que os holofotes não estão virados para você. É um aprendizado de vida. O tempo todo estamos ganhando e perdendo, não pode se sentir melhor ou pior do mundo. Sempre firme, com humildade e caminhando para frente. Esse é o meu grande aprendizado.
JDR1: Sua escola de surf é uma das principais do Brasil, quais os pilares desse trabalho?
AL: A escola já existe há sete anos. Tudo foi uma construção até hoje. Agora somos referências, principalmente por coisas que acredito muito, que é o respeito pelo aluno, pelas demandas, encarar o medo de uma forma muito tranquila. Trazem muito esse discurso do medo do mar e precisamos respeitar. Além dos clientes, minha equipe também. Criamos uma família, tem professores que estão comigo desde o início. A equipe só cresce, não diminui. Raramente um sai fora. Coragem é um fato, porque tem que ter muita para empreender no Brasil. Estou falando de respeito, coragem e união. Essa é a nossa bandeira.
JDR1: Por que a escolha pela Barra da Tijuca para montar sua escola?
AL: Sou moradora da Barra desde 1979, desde que tenho seis anos. Sou barrense desde criança. Mas as condições do mar são bem bacanas para se ter uma escola de surfe.
JDR1: Quais os pré-requisitos para iniciar a prática do surfe?
AL: Para começar no surfe é preciso vontade. Não é aquela coisa de um dia ou outro que falta porque venta ou está frio. O surfe é muito único e requer muita vontade. Coragem também, mas isso a gente constrói junto. Vontade não. É algo intrínseco. É algo único da pessoa.
JDR1: Hoje você enxerga quem como os grandes nomes do surf, tanto masculino como feminino?
AL: Vejo no masculino nossos brasileiros, Ítalo e Medina, são dois que estão em outro patamar de surfe. No feminino, a australiana Sierra Kerr. Uma garota nova, que está vindo com tudo.
JDR1: Falta atingir alguma meta na sua carreira?
AL: Tenho quase todos os títulos. ùnico que não ganhei fui campeã mundial master,. Sempre fui segunda ou terceira das etapas. É o único que ainda posso participar e se for convidado pela ISA, posso participar. Nesses últimos de carreira e que possa competir, é o único que falta. E quem sabe. Na vontade estou sim.