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E a nossa água pode ir para o bolso do banqueiro…

Editorial

O prazo dado pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, para a normalização no gosto, cheiro e cor da água da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) terminou no último dia 30 de janeiro. A data foi estipulada por ele mesmo oito dias antes, ao ser confrontado por uma idosa durante um compromisso oficial em Bonsucesso, Zona Norte do Rio. E o dia 30, novamente questionado quando a água voltaria a ser normalizada, o governador não deu prazo e disse que perguntaria para os químicos que estão tratando do assunto. Ou seja, não respondeu nada. E enquanto o problema persiste, moradores do Rio de Janeiro disputam garrafas de água mineral em mercados da capital e no Grande Rio, geralmente encarecidos.

Desde o dia da promessa do governador do Estado, a Cedae tem tratado a água da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu com carvão ativado e começou a despejar argila nos rios próximos à estação de tratamento. De acordo com a companhia, a ação com argila pode impedir o crescimento das algas que liberam a substância química chamada geosmina. O composto orgânico é produzido por uma bactéria e altera o gosto, cheiro e cor da água. De acordo com a Cedae, o elemento não oferece riscos à saúde.

O rio Guandu, principal rio que abastece quase 10 milhões de pessoas que vivem nos municípios do Rio e Baixada Fluminense, é abastecido por outros rios extremamente poluídos, mortos, com água pouco oxigenada, como o Ipiranga e o Queimados. Eles drenam as águas da Baixada e recebem todo tipo de esgoto, industrial e doméstico. São centenas de indústrias que não são responsabilizadas por jogar esgoto e resíduos não tratados diretamente nestes rios ou na Baía de Guanabara. Como consequência, essa água precisa de muitos recursos para se tornar potável, o que implica na utilização cada vez maior de produtos químicos para purificá-la. Estes componentes certamente trazem consequências para a saúde humana.

É evidente a relação entre a atual crise da qualidade da água e a precarização da Cedae. Em 2019, foram demitidos mais de 50 funcionários experientes da instituição, alguns deles engenheiros com mais de 40 anos de casa. A falta de concurso público diminuiu significativamente o quadro de funcionários, muitos dos quais eram técnicos qualificados que foram convidados a se retirar nos planos de demissão voluntária (PDVs). E isso também está diretamente ligado à demora na identificação e solução da atual crise da água.

O governador prometeu que apresentará o modelo de privatização da Cedae em dezembro desse ano. A proposta é que a privatização ocorra por meio de concessões dos serviços prestados pela empresa em quatro lotes, cada um deles com um trecho da capital e uma área do estado. A Cedae permanecerá captando e produzindo a água, mas venderá a água tratada para os concessionários, que serão remunerados pela tarifa dos usuários. Este modelo, que já existe em Niterói, está em expansão.

Com a “crise financeira” do estado em 2017, sob o argumento de pagar os salários atrasados do funcionalismo, o corrupto governador Pezão (MDB) contraiu um financiamento de R$ 2,9 bilhões com o Banco BNP Paripas, em que a Cedae foi colocada como garantia do empréstimo. Apenas um detalhe – o patrimônio líquido da Cedae ultrapassa os R$ 7 bilhões. Ao fim de 2020, o estado teria que pagar R$ 3,9 bilhões ao banco. Dessa forma, sucateamento e posterior venda da empresa servirá apenas para o pagamento da dívida pública. Não resta então qualquer dúvida que a água privatizada é uma só uma jogada contábil, onde a população arca com o ônus e os banqueiros com o lucro.

Foto: Reprodução da internet

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