Por Alfredo Sampaio
O Jornal DR1 foi até o Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio, e encontrou com a equipe do monólogo ‘Pierrô do Méier – 3 crônicas de Nelson Rodrigues’.
Após a apresentação da peça, conversamos com o produtor Cláudio Calixto e tivemos uma bela amostra de amor ao Teatro, por meio de palavras que expressaram conhecimento, coragem, determinação e propósito. Vamos a ela!
Jornal DR1: Como surgiu o título da peça? ‘A Vida como Ela é’ tem algo quase atemporal… Quando apresentaram a peça pela primeira vez e o que mudou de lá pra cá?
Cláudio Calixto: O título “Pierrô do Méier” é uma referência ao próprio Nelson Rodrigues, um dos nossos grandes escritores. Ele era considerado por muitos um dramaturgo pornográfico, um provocador. Mas ele se dizia um romântico, um homem sensível, que sabia chorar se fosse preciso. Eu, Paulo Trajano, e Elena Gaissionok, diretora do espetáculo, achamos que esse título poderia nos ajudar a evidenciar o objetivo maior de nossa montagem: ratificar o romantismo presente na obra de Nelson. Desde o início de nossos trabalhos, procuramos valorizar aspectos positivos e românticos presentes nas inúmeras personagens e narrativas rodrigueanas. Em nosso espetáculo, procuramos não esquecer nenhuma característica/qualidade importante deste nosso grande autor. O que fizemos foi colocar em primeiro plano alguns valores humanos, habitualmente, pouco explorados em sua obra: dignidade, verdade, perseverança, amizade, amor verdadeiro, a busca do bem… e claro, não deixamos de explorar o humor que emana fortemente de várias situações de A vida como ela é. O humor é uma qualidade muito importante na obra de Nelson. Ele era muito observador, inteligente, gostava do povo e sabia descrever inúmeras situações do cotidiano carioca com uma ironia ácida peculiar.
Jornal DR1: Em muitos momentos, parece que a atuação do Paulo ocorre em camadas, ele alterna de forma extraordinariamente hábil o contador de história, um possível espectador, outro personagem, talvez dele mesmo, cantarolando melodias que enriquecem o enredo… como conseguiram esse efeito, haja vista que perdura de diversos modos durante o espetáculo.
Cláudio Calixto: Fundamentalmente, utilizamos a técnica russa da “Fala Cênica”para construir a encenação das três crônicas de Pierrô do Méier. Esta é uma técnica que Elena, que é russa, leciona aqui no Brasil há anos. Esta metodologia é muito usada para transpor para a cena textos que não foram escritos, originalmente, para serem levados ao palco, como as crônicas de Nelson Rodrigues. Definimos para cada uma das crônicas/narrativas um eixo, isto é, uma personagem central que seria como a referência principal para contar a história. Isso feito, todas as outras personagens entraram em cena em função deste eixo central, perspectivados pela sua visão de mundo. E eu, como ator narrador, em alguns momentos do espetáculo, também tenho meu espaço para falar em meu nome e/ou em nome do autor.
Jornal DR1: Quais foram os maiores desafios para montar a peça? E mantê-la em cartaz?
Cláudio Calixto: O primeiro grande desafio foi escolher apenas três crônicas num conjunto de tantos textos de qualidade como A vida como ela é. Para isso, a perspectiva de romantismo e positividade foi essencial. O segundo desafio foi fazer ensaios online, que não foram evidentes, pois estávamos, no início da pandemia, descobrindo formas de trabalhar online. Mas, apesar das dificuldades e dos estranhamentos, isso nos permitiu a realização de um ensaio que foi visto até na Rússia. O terceiro desafio foi encontrar um espaço para nossa estreia. Isso foi uma questão preocupante até o momento em que acordamos nossa estreia com o Espaço ABU, em Copacabana, em março deste ano. E o maior desafio, que persiste até o presente momento: continuar apresentando nosso trabalho sem apoio financeiro.
Jornal DR1: Pode nos falar um pouco da equipe de produção da peça? Quantos profissionais estão envolvidos e quais são suas funções, se possível citem os nomes de sua equipe.
Cláudio Calixto: Nossa equipe é uma equipe de ouro. Uma equipe formada por pessoas que amam o teatro. Elena Gaissionok dirige e eu, Paulo Trajano, sou o único ator em cena. Eu e Elena criamos também os figurinos e o espaço cênico de nosso espetáculo (cenarização). A iluminação, que tem sido muito elogiada, é de Thales Paradela. A programação visual de todo o projeto é de Aline Assumpção. As fotografias e os vídeos das redes sociais foram feitos por Renato Neto. E a Calixto Produções, de Claudio Calixto, orquestra e viabiliza a realização deste belo projeto teatral. Pedro Logã, Santiago d’Amico e Rel Rocha estão conosco na parte técnica: operação de luz, som e direção de cena. Sem cada um desses profissionais, seu imenso amor e confiança, nada seria possível.
Jornal DR1: Em nome do Jornal DR1, gostaria de parabenizar toda a equipe pelo belíssimo espetáculo. Gostariam de acrescentar algo?
Cláudio Calixto: Gostaria de agradecer imensamente a toda a equipe do Jornal DR1 pelo apoio e interesse demonstrado pelo nosso trabalho. Gratidão! Neste momento de retomada das atividades culturais em nosso país, quando constatamos uma grande dificuldade para a divulgação de espetáculos teatrais nas mídias, todo apoio é bem-vindo e necessário. Muito obrigado!