O Enem 2025 marcou um feito inédito ao registrar o maior número de candidatos com mais de 60 anos desde o início do exame. Foram mais de 17 mil idosos entre os 4,8 milhões de inscritos em todo o país. O aumento na participação dessa faixa etária coincidiu com o tema da redação deste ano, “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, que trouxe à tona uma reflexão sobre a valorização da experiência e o papel dos mais velhos na sociedade.
A prova contou com textos de apoio que exaltaram o envelhecer de forma positiva, incluindo citações de Rita Lee — “A velhice não é doença. É destino” — e de Fernanda Montenegro — “A velhice é o tempo em que a vida já foi vivida e, por isso mesmo, pode finalmente ser olhada de frente, sem o pânico do ineditismo.” A abordagem foi vista por especialistas como um avanço na discussão sobre o envelhecimento e a representatividade da terceira idade.
Para a antropóloga e professora da UFRJ, Mirian Goldenberg, o tema representa um marco importante de conscientização social. “Eu acho maravilhoso uma prova feita por estudantes em sua maioria adolescentes propor um tema sobre envelhecimento. Isso mostra como os problemas enfrentados pelos velhos brasileiros estão mais visíveis do que nunca”, destacou em entrevista.
Entre os participantes acima de 60 anos está a atriz Giovanna Goldfarb, de 61 anos, conhecida por interpretar a personagem Zefa na primeira versão da novela Pantanal, em 1999. Ela decidiu prestar o Enem em busca de uma reconciliação pessoal com sua trajetória acadêmica. “Minha versão aluna merece ser melhor. Quero gabaritar História, Geografia, Literatura e Inglês; tirar 800 na redação; e passar na faculdade que pretendo”, contou.
Giovanna já havia iniciado o curso de Teatro na Unirio em 1983, mas abandonou os estudos após enfrentar problemas com dependência química e sofrer um acidente de carro. Quatro décadas depois, ela integra uma turma do programa Mulheres na Escola, promovido pela Fundação Cecierj e pela Secretaria de Estado da Mulher do Rio. O projeto estimula o retorno à educação formal para mulheres a partir de 16 anos e também oferece preparação para o pré-vestibular.
“Não estudava há mais de 40 anos. Me sinto um museu ambulante na turma do pré-vestibular social que frequento. A gente ri à beça. Me sinto quase que da época de Pedro Álvares Cabral!”, brinca a atriz, que hoje divide cadernos e risadas com colegas bem mais jovens.
A edição do Enem 2025 reforça uma tendência de inclusão e diversidade etária na educação. Para especialistas, o recorde de idosos inscritos demonstra que o envelhecimento está sendo encarado com mais naturalidade e propósito. Além de buscar novos caminhos profissionais, muitos participantes veem no exame uma forma de afirmação pessoal e de superação.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) destacou que a presença de candidatos idosos é um reflexo da ampliação do acesso à educação e da busca contínua por conhecimento. O tema da redação, ao tratar da maturidade como potência, acabou inspirando uma geração que prova que nunca é tarde para recomeçar.





